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sábado, 14 de dezembro de 2024

"Desfile" de Rachel Cusk

 

"Desfile" foi a minha estreia na escritora Canadiana Rachel Cusk, autora que me despertou curiosidade por indicação de um amigo das lides literárias.

Este é um romance cuja narrativa não é uma história linear, mas antes uma passarela por onde desfilam várias personagens, que se identificam como G e são artistas: pintores, escultores, realizadores de cinema ou escritores; falam de si na terceira pessoa, tecem reflexões sobre a sua obra, a busca da verdade através da representação da sua arte, tentam mostrar ou esconder a sua identidade nas suas produções e mostram a evolução destas num esforço de exporem a realidade ou a verdade, um narrador ou mais que falam desses mesmos artistas e ainda várias outras personagens que expõem a sua reflexões sobre a arte, a identidade, as suas relações com os que lhe são próximos, filhos, pais ou companheiros e artistas e alguns G.

Assim, temos G visto pelos olhos da mulher, mais admirado pela crítica do que por ela, que, num momento, passa a pintar quadros de pernas para o ar e onde ela entra na pintura; temos a escultora de malha G, onde numa exposição póstuma da sua obra se dá um suicídio, o que leva a curadora e um círculo de convidados para falar no evento a se encontrarem e a conversarem de arte e da sua vida numa mesa de restaurante; temos a pintora G que pinta com base em fotografia e em tensão permanente com os pais, o marido e filha; temos um escritor que passa a realizador que quer esconder a sua identidade e mostrá-la atrás do seu pseudónimo G para não perturbar os pais ao contrário do seu irmão, responsabilizado pela doença da mãe; temos ainda um casal que passa férias numa ilha e reflete sobre a vida, além de outros Gês e personagens.

No fim está tecida a teia de reflexões, ora em tom ficcional, ora ensaístico, que levanta questões desde o reconhecimento da mulher como artista, o papel do corpo na arte ou na representação, a identidade escondida ou exposta, a busca da verdade na arte e, inclusive, da possibilidade de não ser considerada útil apesar do trabalho que deu a produzir e tudo o que está subjacente a ela ou de ser importante e ainda pensamentos das relações humanas, a vida e a morte.

Numa série de pequenos episódios com uma escrita única a teia fica montada numa obra de arte muito sui generis.

2 comentários:

Pedrita disse...

fiquei curiosa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

A escrita é muito bonita, as reflexões são pertinentes, mas perdi-me um pouco nesta teia