Páginas

segunda-feira, 22 de julho de 2024

"O Imoralista" de André Gide


 Citação

"Desgostos, remorsos, arrependimentos são as alegrias de outrora, vistas de costas."

Acabei de ler "O Imoralista" do escritor francês, laureado com o prémio Nobel da literatura, André Gide, correspondendo à minha estreia neste autor.

Michel é um jovem órfão de mãe, respeitador das regras morais e um brilhante estudioso da história das civilizações clássicas da Europa, um tipo de investigação que segue as mesmas pisadas de seu pai, mas, perto da hora da morte deste, ele toma a opção de casar com uma conhecida de família para assim transparecer perante o progenitor o seu enquadramento num futuro tradicional estável. Apesar do luto, os noivos decidem ir para a Tunísia em viagem de núpcias e conhecer os restos arqueológicos do império romano e de Cartago, só que ele adoece gravemente e na cura reconhece que ressuscitou para a vida, mas já não é o mesmo. Agora quer viver a vida sem amarras e a moral mais não é que um constrangimento ao verdadeiro disfrutar da vida. Então fascina-o tudo o que sai fora das regras. Entretanto, no regresso à França, é a sua mulher que adoece. Michel então empreende uma viagem ao norte de África para a cura desta, mas nem ele é o mesmo, nem a evolução é igual ao pretendido.

Como seria de esperar de um Nobel, o texto está brilhantemente bem escrito, trespassa para o leitor o sentimentos de Michel, as sua confusão fruto da mudança e as descrições do norte de África e de Itália são como fotos impressionistas, onde a atmosfera dos lugares é mais forte que a geografia.

Logicamente o romance é polémico, a preocupação de Gide em questionar as amarras da moral que limita o usufruir da vida, sente-se. O encanto pelo belo rústico e físico nos homens e, sobretudo, efebos, quase não há personagens femininas além da esposa, pode incomodar homofóbicos. A ideia de que os bem-comportados e integrados na sociedade são hipócritas conscientes ou inconscientemente é chocante, mas como refletir sobre a vida sem questionar os costumes e a moral instalada e incomodar?

Gostei, mas não é uma obra compreensível para todos ao nível da filosofia subjacente e deste romance poder-se-iam tirar do texto dezenas de pensamentos para reflexão.

1 comentário:

Pedrita disse...

eu li mas tem muito, muito tempo e gostei muito. lendo seu texto fiquei com vontade de reler. bela capa. eu devo ter lido emprestado de alguma biblioteca. beijos, pedrita