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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

"Eu creio que a Verdade Crua Cura" de Nuno Sobral


Acabei de ler a obra de ficção "Eu creio que a verdade crua cura" do português Nuno Sobral, residente em Aveiro que conhece este blogue e por ele tomou a iniciativa de me oferecer o seu segundo livro, recentemente publicado e sem qualquer contrapartida.
Estamos perante uma pequena obra dividida em três partes: 1ª. Prólogo, onde em primeira voz se ouve Maria Baptista a contar a sua vida de criança acolhida, abusada pelo trabalho e sexualidade, entregue para casar, viúva numa década que depois para sobreviver se tornou bruxa, mantendo as obrigações da sua religião. 2ª. Narrativa, dividida em capítulos, onde alguém conta uma ação de Maria feita a pedido de um padre na sequência do apelo de Briolanja, afilhada de Juliana e por esta acolhida e escravizada, que assistiu à morte desta a profetizar que encarnaria num gato enquanto o seu próprio desaparecia tal como a sua fortuna. 3ª. Epílogo, onde Juliana conta as sua desditas da vida, a importância do seu animal até ao esconderijo do seu tesouro. Deste modo, num jogo de espelhos e a três vozes se completa a estória cuja estrutura e dimensão estará entre um conto extenso e uma pequena novela.
A primeira e última parte do texto têm o tom das lendas rurais sobre mulheres infelizes cujo amor por elas passou rápido e se foi. A narrativa central parece um conto de Edgar Allan Poe com tom de mistério e junção do sobrenatural e análise pseudocientífica da crendice, aqui temperada por um humor sarcástico do terror típico da ignorância popular e dos aproveitamentos dos oportunistas.
Nuno Sobral escreve de forma escorreita numa prosa poética e com agilidade e criatividade capaz de dar às diferentes partes tons distintos sem a obra perder a sua homogeneidade interna, o que dá prazer descobrir e ler.
Gostei deste pequeno livro e recomendo a sua leitura a quem quer conhecer pérolas literárias que se publicam em Portugal fora do círculo imposto pelas grandes editoras nacionais onde abundam interesses comerciais que ofuscam estas preciosidades.

7 comentários:

Pedrita disse...

ah, q interessante, um amigo do blog. ontem tb conheci pessoalmente uma blogueira. fiquei curiosa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Apesar de termos amigos conhecidos comuns, não o conhecia de todo, mas pelo missiva dele leu muitas mensagens de Geocrusoe e suspeitou que gostaria deste seu livro, provavelmente irei procurar o primeiro quando possível para também o ler.

Susana disse...

Estamos gratos pela sua análise e visão.
Certamente que agradou ao autor e que conseguiu entender a intenção do autor neste pequeno, mas complexo e intrigante livro. Esperemos que os leitores do blogue também concordem. Sucesso!

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Olá Carlos! Parece que essa estrutura de narrativa é bem diferente.
Legal você comentar um livro de um leitor.

Abs.

Pedrita disse...

carlos, falei de livro no meu blog.

Carlos Faria disse...

Susana
O autor já falou comigo em privado.
Quanto aos restantes leitores do blogue fica ao critério deles, mas em paralelo já tive uma receção favorável ao meu post de uma leitora do primeiro livro que ficou interessada em conhecer o segundo

Carlos Faria disse...

Kelly
O blogue está abeto ao intercâmbio com leitores e autores, desde que seja feita de forma de troca de opiniões e sem compromissos comerciais. Mas é bom, já não é o primeiro caso e inclusive conheci alguns de maior renome de forma paralela ao blogue.