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sábado, 9 de fevereiro de 2019

"Mistérios" de Knut Hamsun


"Mistérios" do noruguês Knut Hamsun, vencedor do prémio Nobel da literatura, apesar de publicado no final do século XIX parece uma obra muito mais recente pelo estilo de escrita, estrutura das personagens e trama. É um romance de uma modernidade que pode mesmo ter feito evoluir a história da literatura desde então, apesar de fácil leitura é incómodo, pois lança questões sobre como vivemos em sociedade, como somos, só que não nos descansa com respostas.
Nagel decide de repente desembarcar numa pequena cidade costeira de fiorde que o impressionou durante a estação de verão caracterizado por períodos de dias longuíssimos ou as populares noites brancas. Instala-se então num hotel e aos poucos vai conhecendo as pessoas daquela comunidade, sobretudo com o auxílio de um pobre inválido de um acidente profissional que é usado e abusado pela população em geral e chamado de Anão.
Aos poucos vão-se revelando as fragilidades e os defeitos pessoais mesquinhos de vários habitantes, bem como comportamentos estranhos, enquanto Nagel, propositadamente, vai dando uma imagem dúbia e contraditória de si mesmo e contando pormenores fantásticos e góticos da sua vida perturbando toda a população e semeando a desconfiança em cada um por sentirem ameaçados os seus segredos. Depois desta semente de discórdia ele próprio decide sair de cena, deixando-nos igualmente sem compreender esta forte personagem enigmática e cheia de mistério e sem dúvida tornando-se num fantasma na memória da cidade.
Bem escrito, Hamsun num discurso de contraditórios vai fazendo uma denúncia de vícios estratégicos de alguns líderes políticos europeus de então e vai colocando a nu a fragilidade humana no relacionamento social, onde reina uma hipocrisia pública perante defeitos privados que de todos são conhecidos, mas que as obrigações de bom relacionamento impõem e condicionam a sociedade, que podem tacitamente servirem de arma de arremesso sem ser efetivamente usados.
Deverá ter sido a originalidade de Hamun em desenvolver narrativas como estas que deve ter servido de justificação ao Nobel, pois olhando para a literatura da época é uma obra muito à frente do seu tempo.

4 comentários:

Pedrita disse...

fiquei curiosa. anotado. vc escreveu q o livro parece desconcertante, a capa tb é. eu tb me surpreendo com livros escritos há um tempo e que parecem muito atuais. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Sim a capa também é e penso que pretende representar a descrição do Anão, que não é um anão.

Bárbara Ferreira disse...

É um dos livros preferidos do meu namorado, e li-o há uns anos. É desconcertante, desconfortável, é muito bom. Do autor, li também "Fome", e recomendo.

Carlos Faria disse...

Pois senti-me de facto incomodado com aquele protagonista enigmático e o livro pareceu-me tão moderno no estilo que poderia ser uma obra do século XXI.