Acabei de ler "Sensibilidade e Bom Senso" da escritora inglesa do início do século XIX Jane Austen, apesar de se situar entre os escritores mais importantes daquele século, esta foi a minha obra de estreia na autora.
Eliane e Marianne são duas irmãs de comportamento distinto, a primeira racional ou sensata e a segunda romântica ou sensível, vivem com os pais, só que por morte do progenitor a casa e o dinheiro passam a pertencer maioritariamente ao meio irmão mais velho como primogénito. Este encontra-se casado com uma mulher ciosa da herança do sogro, o que leva a madrasta e suas filhas a terem de partir para outro condado para uma casa mais em conta e a uma gestão apertada dos rendimentos. Eliane tem uma paixão mal disfarçada pelo cunhado do irmão que também não assume o seu amor por ela, mas ambos mantêm o relacionamento num estado de letargia escondido dos olhos sociais. Marianne conhece Edward por quem se apaixona perdidamente e este também exibe a sua paixão, ambos de forma descuidada, enquanto outro vizinho mais velho nutre um amor por esta de forma discreta. Entre gestão de interesses de riquezas por casamento, traições, confusões e gestão racional ou irracional de paixões, a situação complica-se, sobretudo para Marianne, enquanto Eliane traz o bom-senso e cuida da irmã, mas quando tudo parece perdido a razão mostra-se superior para um inesperado final da obra.
A obra faz um retrato da época e da vida dos estratos sociais médio-alto a alto, em que a racionalismo e o romantismo estão em confronto, quando as mulheres estão fortemente dependentes dos maridos, numa classe onde os casamentos eram frequentemente por interesse e o amor pouco contava na família para este tipo de união.
Uma escrita lúcida, elegante, mais descritiva do que criativa e fortemente temperada pelo ângulo feminino, numa época em que ser mulher e escritora era praticamente impossível e só concretizada por alguém que pela sua qualidade narrativa e tato conseguiu se impor no panorama cultural, pela sua genialidade de retratar tensões de conveniência social, sensibilidade e de moralidade, bem como a arte de sobrevivência em sociedade. Gostei, apesar de ser uma obra datada, centrada no feminino e apenas nos estratos sociais mais altos.
