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quinta-feira, 13 de junho de 2024

"A Premonição" de Agatha Christie

 

Acabei de ler "A Premonição", uma obra de investigação detetivesca da famosa escritora inglesa Agatha Christie, este tem como protagonistas para deslindar o mistério o casal Tommy e Tuppence, menos famosos que Miss Marple e Poirot, mas também figuram em diversos romances desta autora.
Na sequência de uma visita à Tia Ada ao lar, onde tudo parece em ordem, Tuppence conhece outra residente, Mrs. Lancaster, que lhe pergunta "era sua a pobre criança? e insinua que esta chora ainda por detrás da lareira. Pouco depois, a Tia morre e descobrem que aquela lhe ofertara um quadro com uma casa à beira de um canal de que Tuppence se lembra de ter visto antes, só que Mrs. Lancaster fora levada do lar repentinamente e limparam todas a vias de chegar ao contacto com ela. Correrá ela risco de vida? Qual a sua ligação à casa do quadro e onde ela a vira? Após descobrir o lugar e tentar saber histórias do passado daquela terra rural, Tuppence sofre um ataque que coloca Tommy também na investigação e um mistério de mortes em série no passado e uma rede criminosa são desmontados. 
A obra apresenta elementos de cultura geral artística mais ampla que os habituais romances com Miss Marple e Poirot e também é menos linear, mesmo a meio do livro não sabemos ainda se houve ou não um crime, de quem e o que procuramos, é mais uma suspeita do que um facto que coloca Tuppence com o seu faro a investigar. Por isso a trama evolui calmamente em meio rural inglês conservador, só que o mistério vai-se adensando até se tornar claro que de facto algo deve ter acontecido e com ajuda do o marido com a sua experiência de ex-agente secreto que ambos deslindam o caso. Gostei, apesar de não ser um policial dos mais típicos da escritora 

sábado, 1 de junho de 2024

"À Espera da Subida das Águas" de Maryse Condé

 

Citação

"Mas não é preciso ser perfeito para ser amado. Caso contrário, o amor seria uma recompensa e não um milagre."

Li pela primeira vez uma obra da Maryse Condé, francesa, natural da ilha de Guadalupe, é considerada a maior escritora da Caraíbas, com obras que falam das feridas do colonialismo, da escravatura, das guerrilhas e miséria nas Antilhas, "À espera da subida das águas", estende este tema à África francófona e ao Médio-Oriente nas últimas décadas. 

Babakar é um obstetra formado em Montreal, vive em Guadalupe em solidão enquanto vai atendendo grávidas, recorda uma amizade universitária, África onde nasceu e assistiu às devastações de uma guerra civil liderada pelo seu amigo e um amor perdido. Entretanto sua mãe falecida dá-lhe conselhos e avisos em sonhos. Numa noite tempestuosa é chamado a um parto de uma imigrante haitiana clandestina que morre, adota a criança, mas um companheiro da defunta informa-o que têm de ir para o Haiti com a bebé encontrar a família para a morta ter descanso. Decide seguir o conselho e partem para uma terra de pobreza, de anarquia e conflito e estabelece-se neste caos, cria magníficas amizades, com um "libanês" e outras personagens ligadas à política tirana do pais que vivem naquele estado falhado e procura o melhor para a sua filha.

O romance tem uma estrutura que inclui várias biografias das principais personagens da obra e assim assistimos a diferentes histórias paralelas que completam o evoluir da trama e expõem os problemas de uma guerra civil e ditaduras em África, da guerra no Líbano, do legado da escravatura e do caos em que se transformou o Haiti nas últimas décadas, além das feridas do colonialismo.

Num estilo que paira entre o realismo mágico e as crenças da religião vodu com mistura de vivos e mortos, assiste-se ao milagre da resistência da amizade e do amor às dificuldades de se viver em terras devastadas pelas tensões humanas e as catástrofes naturais.

Apesar do desfile de agruras, não é um texto triste, uma certa leveza e humor atravessa as dificuldades e tempera a obra que se torna agradável de se ler enquanto mostra os problemas das terras por onde Babakar e outras personagens vivem. Gostei e recomendo.