Citações
"Quando chegará, Senhor, o dia em que virás a nós para reconheceres os teus erros perante os homens."
"o homem só é livre para poder ser castigado"
"Então o Diabo disse, É preciso ser-se Deus para gostar de tanto sangue."
Tenho um grande respeito pela liberdade de criação artística e uma aversão enorme a qualquer tipo de censura pública religiosa ou política no campo das ideias ou das obras criativas das pessoas, mas confesso que a força das minhas convicções religiosas levaram-me a adiar mais de 30 anos a leitura de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" de José Saramago, um dos meus escritores favoritos, português e laureado com o Nobel da literatura. Agora, numa fase de agnosticismo e de uma intensa revolta com a vida, aventurei-me, finalmente, a ler este romance, que mereceu grandes elogios por uns e indignação e contestação de outros.
A obra procura apresentar uma biografia alternativa de Jesus Cristo, sem preocupações de rigor histórico, é um romance de ficção, embora este aproveite e reescreva muitos dos episódios narrados nos evangelhos, vistos por um narrador omnisciente que acompanha o protagonista desde o momento da anunciação a Maria da encarnação deste filho, passando pela infância dele e aspetos da família de Jesus e com grande especulação sobre José. Depois prossegue com a saída de Jesus de casa e recria uma vida social e privada deste, incluindo sua comunicação com o Diabo e Deus-Pai, e a sua relação com Maria Madalena, os apóstolos até ao cumprimento da sua missão na cruz.
Por norma todas as situações são complementadas com comentários e apreciações do narrador num tom sarcástico ou irónico típico de Saramago, que subvertem em muitos os aspetos das bondade do Criador da sua justiça e amor deste para com os homens, por vezes são provocadores e podem mesmo ser incómodos para um crente que aceita a doutrina cristã sem espírito crítico. O autor não é mesmo nada complacente com a pregação da moral e doutrina católica.
A escrita e forma é a típica de Saramago e é conhecida, a vida de Cristo e a perspetiva messiânica são de facto reescritas neste livro, sendo que as alterações biográficas bem menos subversivas que o papel atribuído a Deus sobre o controlo da humanidade. Gostei de ler, mas não deixa de ser uma obra em que o autor assume confrontar a visão do Criador dada pelo cristianismo. Valeu talvez a pena esperar estes anos para ler este romance e entendê-lo sem me chocar e despojado do peso de uma fé acrítica.
4 comentários:
é o livro que menos gosto do autor, religioso demais. não sei se o protagonista da obra tem uma história com rigor. acho que foi muito transformada pra atender a interesses. então qq liberdade poética ou não poética é válida. mesmo assim é religiosa demais na obra. pela polêmica que sofreu, esperava bem mais ousadia. beijos, pedrita
Não tenho complexos em ler livros com visões religiosas ou anti, muito menos agora, a vida de Jesus levou alguns retoques no romance face aos evangelhos canónicos, mas daí não muda radicalmente o essencial, o que é pura criatividade ao serviço da mensagem de um deus ávido de sangue e sem amor são os diálogos diretos de Jesus com o Pai e estes são pura imaginação do escritor e fundamentam a última frase do filho no livro que é oposta a dos evangelhos.
Quanto ao seu preconceito de livros com cariz religioso, senti isso quando comentou o livro, ensaio, "Homo Deus", que não tem mesmo nada de religioso, apenas cola o conceito de agente criador como um atributo de deus para demonstrar que o homem com recurso à ciência e tecnologia usa esse atributo... eis um ensaio importante para a compreensão do efeito da tecnologia no pensamento humano e no seu modo de agir arriscado onde a palavra deus não é religiosa.
sim, qd a pessoa é religiosa, acaba tendo uma visão parecida dessas obras. tendo uma identificação. nesses dois casos de pessoas cristãs, q acreditam em cristo. então essa percepção fora da religiosidade não fica percebida, pq é o universo do leitor. como eu não tenho essa visão. achei saramago cristão demais pra escrever algo que não é revolucionário. mas para um cristão, sim, pode ser q o ache herege pelo teor religioso. eu vejo de outra forma pq não é meu universo.
boa tarde carlos, espero q esteja tudo bem com vc e sua família. eu falei de livro no meu blog.
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