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domingo, 26 de março de 2023

"Testemunha muda" de Agatha Christie

 


Voltei aos romances policiais da mestre inglesa Agatha Christie, agora com um investigação de Hercule Poirot com "Testemunha Muda".

Durante a estadia em sua casa dos sobrinhos, a idosa Emily Arundell sofre um acidente que é atribuído a um descuido com um brinquedo do seu cão, mas memória desta permite desconfiar de um caso premeditado vindo dos seus hóspedes ávidos da sua herança. Semanas depois ela morre naturalmente, mas deixou todos os seus bens à sua dama de companhia, só que, entretanto, alguém expeliu para Hercule Poirot uma carta esquecida da falecida para investigar o acidente. Este entra em ação e está convencido que, apesar das aparências, Emily foi assassinada. Por qual sobrinhos e familiares ou a empregada que de repente se tornou numa rica herdeira. O nosso detetive, com as suas células cinzentas, estuda a psicologia dos envolvidos e dos seus testemunhos para chegar à verdade.

Numa escrita simples, sem grandes rasgos artísticos, eis mais um caso típico ao estilo desta autora, narrado pelo ajudante Hasting que nos mantém entretidos com a sua imaginação ao tentar perceber o que de facto aconteceu ao acompanhar o seu mestre, mas onde só Poirot consegue ligar todas as pontas. Gostei, fácil de ler e muito acessível.

quinta-feira, 9 de março de 2023

"O Primo Basílio" de Eça de Queirós

 

Acabei de ler "O Primo Basílio" do grande escritor português do século XIX Eça de Queirós, de quem tenho toda a obra, de cuja edição tirei a foto da capa. Ao nível de ficção penso que me falta apenas ler o romance "A tragédia da rua das Flores", além de diversos contos dele.

Jorge, engenheiro de minas, casou-se há poucos anos com Luísa, vivem felizes e calmamente numa casa num bairro de Lisboa onde recebem vários amigos dele, à exceção da principal amiga dela, uma mulher divertida que tem uma vida de infidelidades conhecida. Num sarau falam de política, de cultura e um dramaturgo discute o final da sua peça sobre um adultério feminino e o papel do marido ao descobrir a traição. Pelo jornal Luísa sabe que o seu primo Basílio, com quem namorara antes, visitava a cidade e enriquecera no Brasil e Jorge tem de ir para o Alentejo em trabalho. O reencontro dos primos desperta a antiga paixão, estão criadas as condições para uma relação alvo dos olhares mexeriqueiros da vizinhança, a descoberta da traição pela sua criada torna-a alvo de chantagem e as tensões e incidentes levam à interrupção da relação e a uma vida infernal. Luísa, é auxiliada pelos amigos para uma solução condigna na volta de Jorge.

Um texto realista, cheio de pormenores descritivos do vestuário, mobiliário, ruas da capital, das características das personagens, onde também se faz a denúncia sarcástica dos defeitos da sociedade lisboeta no final do século XIX. Uma época onde os constrangimentos da mulher num meio machista são postos em cima da mesa e o retrato da vida social da capital, cheia de valores morais públicos e vícios privados que convivem com a hipocrisia e o mexerico que tecem um drama que se vai tornando cada vez mais intenso.

Um romance típico do realismo queirosiano que coloca a nu os defeitos da sociedade portuguesa, mesmo na sempre provinciana capital. Pode ser interpretado como uma lição de moral ou uma denúncia da dureza do machismo face ao papel atribuído à mulher. Fácil de ler num tratamento genial da língua portuguesa.