Acabei de ler "Auto-de-Fé", o único romance de Elias Canetti, autor búlgaro que adquiriu a cidadania inglesa, escreveu sobretudo em alemão e vencedor do prémio Nobel da literatura, essencialmente pelas suas obras de ensaio e memórias. Um livro que me deixou impressões contraditórias.
Peter Kien é um apaixonado por livros, estudioso e perito em sinologia, dono da maior biblioteca privada da cidade e detentor de uma fenomenal memória, mas vive isolado do convívio humano por ser um misantropo exacerbado. Na sua casa conhece o porteiro, que lhe assegura o afastamento de intrusos, e a criada, mas deixa-se cativar por esta que lhe demonstra interesseiramente uma admiração por livros que o confunde e com quem vem a casar. Começa então o seu calvário com a ganância da esposa, a sua infidelidade e a ocupação do seu espaço, mas na sua delicadeza é ele que abandona o lar, onde conhece a escória da sociedade com o pior tipo de personagens que se aproveita dele. Peter leva a sua biblioteca na cabeça e contrata um anão para o ajudar no seu transporte livreiro. O choque da sua inadaptação levam ao descalabro psicológico e à confusão da sua imaginação desenraizada do convívio, talvez possa ser salvo pelo seu irmão distante, um psiquiatra gestor de um manicómio que se entusiasmou na cura de loucos.
Canetti leva o aprofundamento das suas personagens trágicas ao extremo da racionalidade, criando situações que se desenvolvem ao pormenor e longamente, o que por vezes leva a uma certa saturação do desenrolar da estória. O que acompanha com a intercalação de muitas informações provenientes da vasta cultura do escritor e do protagonista, este considera o livro acima da pessoa humana.
A escrita é riquíssima, cheia de imagens fortes, a narrativa toca o irrealismo que é enriquecido com a loucura e o desencontro das mentes dos personagens na interpretação do outro e da sociedade. É sem dúvida um grande romance, mas também pela extensão que nalguns momentos satura, mas a beleza do texto assegurou a persistência da leitura e levou-me sobretudo a querer conhecer a obra de memórias autobiográficas de Canetti.
Uma obra difícil e desafiante.
Peter Kien é um apaixonado por livros, estudioso e perito em sinologia, dono da maior biblioteca privada da cidade e detentor de uma fenomenal memória, mas vive isolado do convívio humano por ser um misantropo exacerbado. Na sua casa conhece o porteiro, que lhe assegura o afastamento de intrusos, e a criada, mas deixa-se cativar por esta que lhe demonstra interesseiramente uma admiração por livros que o confunde e com quem vem a casar. Começa então o seu calvário com a ganância da esposa, a sua infidelidade e a ocupação do seu espaço, mas na sua delicadeza é ele que abandona o lar, onde conhece a escória da sociedade com o pior tipo de personagens que se aproveita dele. Peter leva a sua biblioteca na cabeça e contrata um anão para o ajudar no seu transporte livreiro. O choque da sua inadaptação levam ao descalabro psicológico e à confusão da sua imaginação desenraizada do convívio, talvez possa ser salvo pelo seu irmão distante, um psiquiatra gestor de um manicómio que se entusiasmou na cura de loucos.
Canetti leva o aprofundamento das suas personagens trágicas ao extremo da racionalidade, criando situações que se desenvolvem ao pormenor e longamente, o que por vezes leva a uma certa saturação do desenrolar da estória. O que acompanha com a intercalação de muitas informações provenientes da vasta cultura do escritor e do protagonista, este considera o livro acima da pessoa humana.
A escrita é riquíssima, cheia de imagens fortes, a narrativa toca o irrealismo que é enriquecido com a loucura e o desencontro das mentes dos personagens na interpretação do outro e da sociedade. É sem dúvida um grande romance, mas também pela extensão que nalguns momentos satura, mas a beleza do texto assegurou a persistência da leitura e levou-me sobretudo a querer conhecer a obra de memórias autobiográficas de Canetti.
Uma obra difícil e desafiante.