Conclui a leitura de "Guerra e Paz" do grande escritor russo Lev Tolstói. Um dos romances mais importantes da história da literatura mundial e apesar da sua dimensão, cerca de 1700 páginas em 4 volumes, é de fácil leitura pela linguagem acessível, elegante e linear, com a vantagem de cada tomo ter uma espécie de final, pelo que embora se aconselhe a leitura sequencial e completa, é viável parar-se no termo de cada volume.
A obra tem o título original de "Guerra e Mundo" e percebe-se bem este nome depois de lida, apesar de como ficou conhecida no ocidente. Efetivamente o romance é uma estória que envolve personagens fictícias da aristocracia russa de São Petersburgo e Moscovo e líderes da guerra napoleónica e esta serve de reflexão sobre a humanidade, a sociedade e a luta entre povos. É uma obra que seguramente amadurece o leitor e corresponde a um pico superior da literatura, como forma de arte e formação.
No 1.º livro apresentam-se as os protagonistas da novela até aos alvores da progressão Napoleão para leste com a ida dos russos à guerra fora do seu país, terminando com a famosa batalha de Austerlitz.
O 2.º volume mostra o dia-a-dia da aristocracia russa nos salões e clubes sociais de elite em tempo de paz: os amores, paixões e vícios envolvendo idealistas, oportunistas, acomodados, inquietos, ricos, falidos, cidadãos eticamente fortes ou de moralidade duvidosa, progressistas e conservadores face à revolução revolução francesa.
O 3.º volume mostra a instabilidade social da invasão de Napoleão até Moscovo, faz um retrato da guerra, da sociedade rural russa onde a aristocracia age como dona do povo e faz uma crítica de como a história apresenta os grandes acontecimentos da humanidade, com reflexões sobre o papel do herói, do cidadão anónimo, das sementes revolucionárias e dos valores por que se luta que podem desembocar na vitória ou derrota de um exército ou de um povo, independentemente dos atributos atribuídos aos líderes.
O 4.º volume é a volta de Napoleão a casa com o esgotamento físico, psicológico e erros estratégicos que levariam à sua própria derrota só com a paciência do exército russo sem necessidade de uma intervenção bélica. Isto ntercalado com reflexões sobre o que move os povos e demonstra as lideranças como titeres reféns dos acontecimentos Segue-se a 1.ª parte do epílogo com o destino final dos personagens e a estória acaba aqui. A 2.ª parte é um apêndice pós-romance, são as 50 páginas difíceis da obra feitas em forma de ensaio sobre erros de análise dos historiadores e uma reflexão dialética à cerca da liberdade e das condicionantes que controlam as decisões, menorizando o papel dos heróis na história da humanidade e inclusive da cultura e das ideias filosóficas de uma época.
As principais dificuldades de leitura da obra são: o receio inicial da sua dimensão (levei só um mês a ler); as numerosas citações e algumas passagens na língua culta da época, o francês (traduzido em rodapé); e para alguns a intercalação de reflexões sobre a história e o papel dos líderes e dos povos. Um romance que todos deveriam ler.