Acabei de ler o "O Ruído do Tempo" do escritor inglês Julian Barnes. Um romance que tenta expor os prováveis receios e complexos de consciência da vida da personagem histórica Shostakovitch (Chostakovitch), o compositor erudito mais famoso que viveu e compôs sempre sob o regime soviético sem nunca tentar fugir do País e alvo de enormes pressões para que as suas obras obedecessem às diretrizes do PCUS.
O livro dá destaque às atitudes de Shostakovitch no período de terror de Estaline e depois nas reviravoltas da época de Kushchev e como terá sido usado como exemplo da supremacia artística da União Soviética pelos dois líderes.
O livro dá destaque às atitudes de Shostakovitch no período de terror de Estaline e depois nas reviravoltas da época de Kushchev e como terá sido usado como exemplo da supremacia artística da União Soviética pelos dois líderes.
A obra é escrita numa sucessão de textos, como bilhetes postais, onde Julian Barnes vai mostrando a biografia de Shostakovitch em peças soltas que se colam e montam a vida deste, as suas relações com mulheres, os casamentos e as suas ideias musicais e sociais avançadas cercada pela cobardia de as pôr em prática. Exibe ainda as suas eventuais reflexões e exames de consciência. Um momento chave é quando ainda jovem vê a sua grande ópera após um sucesso estrondoso na União Soviética e Mundo ser ostracizada pela crítica, que pode ter sido escrita por Estaline, e o leva a optar por não dormir e a esperar a sua prisão e morte à porta do elevador para a família não assistir.
"Ser herói era muito mais fácil do que ser cobarde. Para ser herói só é preciso ser bravo por um momento... ...mas ser cobarde era embarcar numa carreira que durava toda a vida. Nunca podíamos descansar."
A partir de então toda a sua vida foi sobreviver com a sua cobardia e continuar a compor pretendendo agradar ao sistema para ser ouvido e com medo de pôr as suas ideias na música, em paralelo renega artistas que admirava ou heróis de resistência. Chega a assumir discursos discursos que não escreveu e opiniões que nem concordava no País e no Estrangeiro e quando da abertura do regime uma nova humilhação que não previra.
Há escritores que produzem obras-primas de literatura sendo originais e bons em estilos e géneros diferentes, depois de "O sentido do Fim", que li este ano, agora outra obra-prima nada semelhante à anterior. Um texto com uma dose contínua de ironia, por vez sarcástica, bem redigido e num estilo brilhante, Julian Barnes é um escritor que quero continuar a ler e descobrir o que já publicou ou venha a publicar.