Excerto
"as defesas mais fortes estão crivadas de pontos fracos.""a liberdade é perigosa. A liberdade é muito perigosa"
"cada dia que passa as palavras que ouço dizer parecem corresponder cada vez menos à descrição do que as coisas realmente são."
Li "A Mancha Humana" do escritor norteamericano Philip Roth, a escolha deste livro foi mais ponderada do que o habitual, pois apesar dos muitos elogios e popularidade deste autor, o primeiro livro que comecei a ler dele desisti: enojado e irritado "O Complexo de Portnoy". Assim levei vários anos a ouvir recomendações para uma segunda oportunidade ao autor, este título era um dos mais sugeridos, não o único, e quando saiu nesta coleção de baixo-preço e seleccionados pela sua qualidade, decidi-me. Desde já ficou em muito reabilitada a imagem de Philip Roth, pois gostei muito da trama e da mensagem do livro, embora a sexualidade seja tratada com alguma grosseria e vernáculo, esta não é o centro obsessivo da obra com uma escrita escorreita e agradável, mas não a senti excecional na beleza e forma.
Está-se no ano do escândalo sexual do Presidente Clinton com Mónica, quando nasceu a amizade entre o escritor Zuckerman e Coleman Silk. Este é um homem de 71 anos que foi reitor da universidade local, a revolucionou e modernizou pela sua capacidade, atingindo o auge de reconhecimento público e deixando ódio em medíocres oportunistas do meio académico. Eis que de repente toda a sua vida desmorona ao utilizar uma palavra num dado sentido que também pode ser racista. O escândalo leva-o a afastar-se, a mulher tem morte súbita e ele encontra suporte amoroso numa empregada de limpeza de trinta anos, inculta e analfabeta mas em que o ex-marido - com síndrome pós-traumático do Vietname - pretende destruir o casal que vêm de facto a morrer. Zuckerman vai então descobrir quem foi Silk e descobre um segredo na sua origem que é uma mancha que apesar disso ele conseguiu ultrapassar e vencer socialmente num meio cheio de preconceitos, racismo e intolerância quando tudo parecia impossível decidindo passar a livro toda essa descoberta.
O romance faz um retrato profundo da América, onde se mistura o puritanismo, os traumas dos veteranos e onde o topo do sucesso social estava reservado a uma elite branca que tolerava outras cores mas numa realidade segregacionista onde se ferem e condicionam pessoas numa guerra racista, moralmente hipócrita e de competitividade sem tréguas nem ética.
Vale a pena ler esta obra por esta informação bem estilizada nos vários aspetos da trama e cheia de deixas críticas que denunciam vícios que estão a ameaçar o desenvolvimento e a humanidade em sociedade.
Vale a pena ler esta obra por esta informação bem estilizada nos vários aspetos da trama e cheia de deixas críticas que denunciam vícios que estão a ameaçar o desenvolvimento e a humanidade em sociedade.