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terça-feira, 30 de setembro de 2014

"O mistério da estrada de Sintra" de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão

Por norma, não leio obras de ficção em formato digital, o denominado ebook ou livro eletrónico, ao contrário do que acontece com ensaios sobre socioeconomia e política atual. Todavia tenho descarregado romances antigos, sobretudo de autores nacionais, que em princípio não compraria numa livraria em concorrência com nova literatura que surjindo ou já são difíceis de encontrar. Isto como salvaguarda de surgir a oportunidade de os poder ler um dia e tal como já referira neste blogue.
Assim, recentemernte a a partir da sítio do Projeto Adamastor, acedi, descarreguei e li "O Mistério da estrada de Sintra", uma obra conjunta de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão publicada pela primeira vez em folhetins no jornal Diário de Notícias em 1870.
Um romance que começa como um "thriller" mistério em torno de um crime, narrado em formato epistolar e que com o tempo se vai transformando numa história romanesca de paixão, ciúme e questões de moral em pessoas da aristocracia lisboeta cruzadas com princípios de honra inglesa da época vitoriana e onde tudo fica no fim esclarecido e justificado.
Não sei exatamente quais as partes que são de Eça, mas suspeito pelo estilo de escrita, de qualquer forma é uma obra de juventude destes autores, ainda sem a ironia e a crítica social que desenvolveram genialmente, sujeita aos costumes e princípios morais então em voga e ainda não despojada dos floreados sentimentais e fáceis do período romântico. Assim, a obra vale sobretudo para compreendermos a evolução literária do autores e marcar uma época. Um romance acessível a qualquer público, novelesco, mas sem a densidade e pujança do que depois estes escritores foram capazes de criar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

"A Capital" de Eça de Queiroz


O romance "A Capital" de Eça de Queiroz  apesar de escrito na primeira metade da vida de produção literária deste grande escritor português, só foi publicado 25 anos após a sua morte e segundo a editora Presença a versão corrente e agora lida sofreu retoques finais por seu filho José Maria, tendo esta editado recentemente um texto com algumas diferenças.
A obra é a história desde a infância até juventude de Artur Corvelo, que de rapazola quieto, triste e tímido vai estudar para Coimbra onde se fascina pelos sonhos de ser poeta e escritor famoso, mas que de repente se vê sem bens e retido na pacata província, até surgir uma herança e rumar a Lisboa para o sucesso idealizado, aqui é rejeitado e alvo de todos os oportunistas e vícios da capital que lhe sugam o dinheiro.
Eça recorre à sua brilhante escrita irónica e mordaz para fazer uma crítica forte a todos os estratos sociais, ideológicos e estilos de vida de Portugal do último quartel do século XIX, com destaque o lisboeta, embora lentamente o romance vá perdendo vigor por se tornarem previsíveis os vários tipos de enganos e desencantos que o protagonista sofrerá  com a sua estadia na capital.
O fim desta versão tem reminiscência de Hamlet. Gostei do romance, só que não tem a grandeza e o brilhantismo de obras geniais de Eça de Queiroz que já li, como "A cidade e as Serras", "O crime do Padre Amaro" e, sobretudo, "Os Maias", entre outras.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"A Mascarada" de Alberto Moravia


"A Mascarada" do italiano Alberto Morávia tem a coincidência de denunciar o que é a mascarada política num país fictício ao longo da preparação de um baile de máscaras, no qual se simulará um atentado ao ditador para alcançar outros objetivos, sustentar vícios privados e preservar uma máscara pública, num romance onde quase ninguém socialmente é o que mostra, mas encarna uma personagem conveniente ao que lhe convém aos seus interesses egoístas, enquanto oportunamente se usa e abusa dos idealistas  e dos mais frágeis que entretanto passam pelo caminho.
O romance tem um escrita muito fácil e uma trama que se desenrola com suspense e ironia permanente, mas onde cedo se percebe que os estratagemas da mascarada irão todos falhar, exceto o aproveitamento político que consegue dar a volta e subsistir.
Um romance divertido que se lê muito bem, onde as reflexões e a ironia são ferramentas de denúncia de um mundo hipócrita e estratificado, neste caso coberto por uma ditadura, mas penso que na realidade pode sobreviver noutros regimes políticos. Gostei e recomendo a qualquer tipo de leitor.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"A ilha" de Aldous Huxley


Acabei de ler "A Ilha" de Aldous Huxley, onde um jornalista consegue aceder e compreender o modelo de gestão social de uma ilha situada no Índico interdita a muitos estrangeiros, sobretudo a pessoas da imprensa, para proteção do seu estilo de governação, cuja forma e as prioridades são bem diferente das do resto do mundo.
O autor expõe assim uma sociedade utópica, governada por ideais para denunciar muitos dos vícios da sociedade ocidental, mas também demonstra que perante a globalização uma alternativa do género dificilmente resiste à ambição económica e política instalada na rede mundial.
A obra que aborda assuntos que vão deste a educação, a saúde, a morte, o consumismo e a religião, neste campo contrastes entre o dogmatismo e a reflexão budista, é heterogénea, tem momentos de crítica social que parecem denúncias perfeitas do mundo atual, noutros, Huxley entra em devaneios e contradições, inclusive o recurso a psicotrópicos para compreender o fim em si.
Em "A Ilha" mostra-se um mundo muito mais viável e contemporâneo que a visão futurista de "O admirável mundo novo", mas onde o ideal da perfeição e a centralidade do ser humano são os pilares da sociedade, infelizmente valores que estão ameaçados por uma civilização consumista, belicista e preconceituosa por crenças dogmáticas que não valorizam o Homem. Gostei da obra e recomendo.