9 de Julho de 1998, 5h 19 da manhã, um sismo de magnitude 5.8 graus na
escala de Richter, a nordeste do Faial, atinge a Ribeirinha, a freguesia mais próxima do epicentro. Vinte segundos que mudaram para sempre esta comunidade... faz hoje, precisamente, 10 anos.
As duas localidades que compõem a freguesia, Ribeirinha e Espalhafatos, são destruídas praticamente na sua totalidade, numa fúria de intensidade VIII-IX na
escala de Mercalli. O primeiro levantamento dos estragos, informaram-me os serviços oficiais, dava um grau de destruição de 114% (?). Pedem-me que detecte o erro como autarca conhecedor do terreno. Não havia!... O inventário projecta os danos das moradias habitadas contra o censo habitacional, não contabiliza possíveis lacunas neste último, nomeadamente casas não convenientemente legalizadas... Legais ou não, todas foram danificadas!
As ruas pareciam ter resultado de um bombardeamento, as imagens eram de um filme de guerra e o sentimento tornava qualquer filme de terror numa brincadeira. A compreensão da realidade levou algum tempo a ser digerida, bem como a capacidade de reacção imediata.
Cinco mortos na freguesia, 9 na ilha e centenas de feridos. Nunca foi contabilizada a dor, o receio, as lágrimas ou aqueles que pelas dificuldades em que ficaram, pelas más condições individuais posteriores, pelas raízes abaladas... calma e esquecidamente se libertaram das amarguras da vida e, doridos, mais rapidamente abraçaram a morte e nos deixaram saudades e sofrimentos que nunca mais se apagam...
As imagens correram o mundo, o país solidarizou-se, as altas individualidades visitaram-nos, os abrigos provisórios foram montados, os géneros alimentícios e os vestuários chegaram, a reconstrução projectou-se, as obras começaram e as casas concluíram-se; mas a Ribeirinha, os Espalhafatos, o Faial e nós - os designados por sinistrados - nunca mais ficámos iguais.
Esquecida a ciência, sentimos a terra revoltar-se e estrebuchar contra nós. Mas fizemos as pazes com o chão, abriu-se um período de tréguas e as flores continuaram a desabrochar, a dizer-nos para ter esperança, levantarmo-nos das ruínas, arregaçarmos as mangas, abraçarmos as nossas causas e construir um mundo melhor... e assim se tem feito!
Aos que de algum modo nos ajudaram a levantar e a ir em frente - foram mesmo muitos - a maioria anónimos, outros não: como bombeiros, militares, assistentes sociais, voluntários que vieram até nós, etc. fica aqui o OBRIGADO!
No amor fraterno sente-se e vê-se a presença de Deus, a quem dou Graças pela companhia prestada na caminhada.
Todas as fotos deste post foram disponibilizadas amavelmente em formato de papel por Conceição Quaresma, proprietária das imagens e detentora do maior levantamento fotográfico privado dos danos do sismo de 9 de Julho de 1998 na localidade de Ribeirinha. Estas e outras encontram-se disponíveis no museu etnográfico e de artesanato aberto ao público nesta freguesia e com muitas outras memórias desta terra. (clique nas imagens se pretender a respectiva ampliação)