"Número Zero" é um pequeno romance publicado já este ano por Umberto Eco, neste, em estilo de paródia, o escritor disserta sobre como fazer mau jornalismo e utilizar esta atividade como ferramenta de pressão sobre personalidades e manipulação social, isto através da preparação de uma nova equipa editorial contratada para a emissão de um novo título de jornal e a "publicar" precisamente com este último objetivo.
Em paralelo, um dos jornalistas da equipa na sua investigação histórica acredita ter descoberto uma conspiração e efetua uma reinterpretação de notícias passadas, sobretudo na Itália, desde o fim da II Grande Guerra que tem como base a hipótese de sobrevivência de Mussolini e o seu uso como ídolo capaz de estancar a expansão comunista durante a guerra fria. Assim ligam-se numerosos atos terroristas e situações aparentemente isoladas numa teia que envolve políticos, guerrilhas de esquerda e de direita, igreja, forças de segurança nacionais e de inteligência internacionais e até guarda-florestais, no fim sentimo-nos usados numa manipulação social dos destinos dos Estados. Curiosamente um relacionamento amoroso na equipa que envolve alguém hipoteticamente mais sentimental e com perturbações é capaz de dar alguma racionalidade a esta loucura narrativa.
Umberto Eco já não surpreende, pois usa a mesma fórmula conspirativa de organizações secretas em outras obras anteriores, como no Cemitério de Praga e no Pêndulo de Foucault, e como o atual romance é demasiado centrado na Itália muitos elementos da história perdem-se na memória de quem não conhece bem os acontecimentos ocorridos naquele país no último meio século, originando uma cadeia louca que por vezes me cansou ou me perdi, mesmo assim tem o interesse de mostrar como a comunicação social pode manipular o modo de pensar da sociedade muito além da real verdade dos factos.