"Mistérios" do noruguês Knut Hamsun, vencedor do prémio Nobel da literatura, apesar de publicado no final do século XIX parece uma obra muito mais recente pelo estilo de escrita, estrutura das personagens e trama. É um romance de uma modernidade que pode mesmo ter feito evoluir a história da literatura desde então, apesar de fácil leitura é incómodo, pois lança questões sobre como vivemos em sociedade, como somos, só que não nos descansa com respostas.
Nagel decide de repente desembarcar numa pequena cidade costeira de fiorde que o impressionou durante a estação de verão caracterizado por períodos de dias longuíssimos ou as populares noites brancas. Instala-se então num hotel e aos poucos vai conhecendo as pessoas daquela comunidade, sobretudo com o auxílio de um pobre inválido de um acidente profissional que é usado e abusado pela população em geral e chamado de Anão.
Aos poucos vão-se revelando as fragilidades e os defeitos pessoais mesquinhos de vários habitantes, bem como comportamentos estranhos, enquanto Nagel, propositadamente, vai dando uma imagem dúbia e contraditória de si mesmo e contando pormenores fantásticos e góticos da sua vida perturbando toda a população e semeando a desconfiança em cada um por sentirem ameaçados os seus segredos. Depois desta semente de discórdia ele próprio decide sair de cena, deixando-nos igualmente sem compreender esta forte personagem enigmática e cheia de mistério e sem dúvida tornando-se num fantasma na memória da cidade.
Bem escrito, Hamsun num discurso de contraditórios vai fazendo uma denúncia de vícios estratégicos de alguns líderes políticos europeus de então e vai colocando a nu a fragilidade humana no relacionamento social, onde reina uma hipocrisia pública perante defeitos privados que de todos são conhecidos, mas que as obrigações de bom relacionamento impõem e condicionam a sociedade, que podem tacitamente servirem de arma de arremesso sem ser efetivamente usados.
Deverá ter sido a originalidade de Hamun em desenvolver narrativas como estas que deve ter servido de justificação ao Nobel, pois olhando para a literatura da época é uma obra muito à frente do seu tempo.
4 comentários:
fiquei curiosa. anotado. vc escreveu q o livro parece desconcertante, a capa tb é. eu tb me surpreendo com livros escritos há um tempo e que parecem muito atuais. beijos, pedrita
Sim a capa também é e penso que pretende representar a descrição do Anão, que não é um anão.
É um dos livros preferidos do meu namorado, e li-o há uns anos. É desconcertante, desconfortável, é muito bom. Do autor, li também "Fome", e recomendo.
Pois senti-me de facto incomodado com aquele protagonista enigmático e o livro pareceu-me tão moderno no estilo que poderia ser uma obra do século XXI.
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