Acabei de ler o segundo livro do escritor israelita Amos Oz e o meu primeiro romance dele: "Judas".
O romance passa-se em Jerusalém no inverno de 1959, onde um jovem, tímido e sentimental, a fazer uma tese de doutoramento sobre Jesus visto pelos judeus ao longo dos tempos, por motivo de desalento com o fim do namoro e dificuldades financeiras, decide abandonar a investigação e encontra um emprego de companhia numa casa com um idoso tagarela e uma viúva por quem se sente atraído mas inacessível. Neste trabalho Samuel terá tempo para refletir sobre o que o seu povo disse do que teria sido Jesus, mas também questionar-se sobre Judas, talvez o primeiro cristão de fé cujo seu papel na crucifixão teria sido para a glória do seu mestre e da qual saiu desiludido tornando-se conhecido como um traidor e ainda um peso para os judeus.
A intercalar as reflexões históricas e religiosas está o fio condutor da narrativa com a vida naquele inverno do jovem e as suas descobertas sobre o passado recente: o comportamento desastrado dele na sua atração por Atália, o jogo desta, as descobertas das perspetivas distintas em torno da criação de Israel pelo velho, o defunto marido e o pai da viúva e as desconfianças e ameaças árabes vistas no contexto da época mas que ainda hoje são atuais. Estes dois tempos entrecruzados no romance são sempre contados de uma forma introspetiva e serena, por vezes com um humor requintado e abordagens naturais a situações de algum anormalidade e com uma excelente escrita. Gostei muito mas não é um livro que desperte vibrações e emoções fortes ou suspense, pois reina ao longo de toda a obra uma calma e uma interioridade na forma de expor os acontecimentos e as reflexões mas que dá prazer apreciar o texto.
7 comentários:
ah, tb estou querendo muito ler uma obra desse autor. e pela sua postagem talvez esse. beijos, pedrita
É muito bom como obra literária e de análise e nem é muito extenso, vale a pena.
comprei hj o caixa preta dele estimulada pela sua postagem. embora faz tempo que queira ler algo dele. realmente grande lacuna. sei q os católicos foram missionários em muitos países. mas não tinha ideia q em 1600 e nem da perseguição q fizeram a eles. os estudos de história no brasil eram muito precários e não sendo católica pouco sei de suas histórias. a não ser que consiga pela literatura diminuir essas lacunas.
Ainda bem que comprou "a caixa negra" que ainda não li, mas Oz costuma dar excelentes lições de história do médio oriente e pistas para a compreensão dos conflitos que se passam naquela zona. Felizmente a literatura pode colmatar com bons livros muitas das lacunas do ensino e por isso também nos apaixonam os livros.
carlos, a caixa preta está em uma coleção de bolso, então é bem razoável. queria esse que vc leu, mas não tinha no sebo que fui. falei de livro no meu blog.
Eu adoro esse autor e li recentemente "OSJUDEUSEASPALAVRAS" um ensaio que ele escreveu com a sua filha Fania, que é uma historiadora e professora na Universidade de Haifa da Historia dos Judeus.Muito interessante para quem tem interesse no assunto.
Mas um dos livros dele que eu mais gostei foi "ENTRE NÓS". DO AMOR E TREVAS, MEU MICHEL, A CAIXA PRETA,O MESMO MAR, CONHECER UMA MULHER,PANTERA NO PORÃO (o primeiro livro dele que eu li),RIMAS DA VIDA E DA MORTE, CENAS DE VIDA NA ALDEIA (maravilhoso), UMA CERTA PAZ, DE REPENTE NAS PROFUNDEZAS DO BOSQUE, NÃO DIGA NOITE, FIMA, esses que eu li e adorei todos!
Este foi o segundo livro que li dele, adorara Uma história de amor e trevas, a Caixa Negra esteve como alternativa de aquisição a este judas, mas optei pelo mais recente.
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