O romance "Deixem passar o homem invisível" de Rui Cardoso Martins, vencedor do prémio romance/novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2009, decorre durante as operações de salvamento de um cego, o protagonista, e de uma criança, sugados por um esgoto antigo de Lisboa na sequência de uma inundação relâmpago da cidade.
Habitualmente não gosto da escrita de jornalistas que viram a escritores, mas este foi uma exceção, não deixa a sensação de se estar a ler uma reportagem ou um texto demasiado estilizado para disfarçar o tom de redação noticiosa. Gostei da forma como escreve.
Todavia a estória surpreendeu-me, tinha imaginado que esta se desenvolvesse segundo duas linhas possíveis: uma viagem pelo subsolo lisboeta ao estilo de guia subterrâneo de uma Lisboa menos conhecida ou uma narração com a forma diferente de um cego ver o mundo e de este o ver. Afinal no romance existem muitos relatos paralelos da vida das personagens mais importantes da obra, memórias anteriores ao momento em que a ação se desenrola: a operação de busca e resgate. Há dissertações sobre a religião, a vida de santos, os milagres ansiados para a cura da cegueira e até espetáculos de magia e os azares de vida do principal amigo do protagonista, um mágico pouco afortunado. Por vezes salta-se do mundo do ilusionista para o dos milagres, que talvez nem sejam tão distantes assim, mas o certo é que o final da história me surpreendeu e talvez daí resultar uma certa desilusão nas minhas expectativas.
Este é o segundo livro que leio onde a igreja de São Sebastião da Pedreira é o ponto de partida para uma Lisboa subterrânea e onde a ameaça de um terramoto se concretiza sobre a cidade, o outro: "Terramoto" de Vitorio Kali, li-o há mais de 20 anos, fico com alguma suspeita de não ser uma mera coincidência, mas as obras são bem diferentes.
Sobre o romance que agora li, houve passagens de que gostei, outras em que me diverti com a ironia que praticamente é transversal a toda a obra, mas tambén senti aproveitamentos fáceis de abordar crenças religiosas e que se podia ter ido mais além nas vias que esperava encontrar, todavia penso ser uma obra interessante de se ler e cada um depois tirar a sua opinião
5 comentários:
eu gosto de livros de jornalistas. tem formato diferente. mas me agradam. eu amei deus das pequenas coisas. beijos, pedrita
Pois ainda vou muito no início deste livro de Arundhati.
é muito lindo. falei de livro no meu blog.
Também li este livro e gostei bastante, aliás já o conhecia o autor porque li também o seu primeiro livro "E Se Eu Gostasse Muito de Morrer", que me foi recomendado por um antigo professor de Português que tive que conhecia o Rui Cardoso Martins, fiquei logo a gostar da sua escrita, portanto quando saiu o "Deixem passar o Homem Invisível" naturalmente que tive de o ler...
Outra curiosidade em relação a este autor e à sua obra, é que esse seu primeiro livro, "E Se Eu Gostasse Muito de Morrer", foi o primeiro livro ao qual eu fiz uma "review" e que postei num blog pessoal que mantive durante uns tempos.
Deixo aqui a título de curiosidade os links das minhas opiniões sobre esses livros
Abraço
http://oqueeuleio.blogspot.pt/2009/09/deixem-passar-o-homem-invisivel-rui.html
http://pipasblog.blogspot.pt/2007/06/e-se-eu-gostasse-muito-de-morrer.html
Gostei mais da escrita do que da forma como ele concluiu a obra.
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