O romance "A educação sentimental" de Gustave Flaubert, começou-me a surpreender logo no início: a escrita era diferente da de outros autores do século XIX do período romântico, parecia muito mais contemporânea, tanto nas figuras de estilo, como na sintaxe; depois, as personagens eram complexas, sem serem exclusivamente boas ou más, como em Charles Dickens ou até em Victor Hugo, mas sim um misto de tudo um pouco, moldáveis às circunstâncias políticas e sociais do contexto e do momento em que se surgem e evoluem ao longo da obra.
"A educação sentimental" mostra a lição da vida de um jovem ambicioso perante a realidade da sociedade que entretanto não consegue romper com certos princípios resultantes da descoberta de uma paixão, inicialmente platónica mas utópica, e que por isso se torna refém de armadilhas e do evoluir da sociedade francesa no seio da segunda fase da revolução francesa, onde praticamente no meio da violência tudo se conjuga para que a mudança preserve os vícios da sociedade e os hábitos dos mais poderosos.
Assim, progressivamente vai-se descobrindo como Flaubert faz um retrato da sociedade de então e uma denúncia do comportamento do ser humano, onde o protagonista em vez de se tornar num vencedor, se rende e se acomoda a esta realidade, vencido nos seus ideais sociais e sentimentais.
Um romance que apesar de parecer a história de uma paixão é um relato rico da história de França de meados do século XIX que o transforma numa obra-prima cheia de informações subliminares e dá para compreender porque se tornou numa referência literária para Kafka e Proust no século XX.
3 comentários:
fiquei curiosa. beijos, pedrita
Gostei da tua análise.
Li «Madame Bovary» e apesar de ter gostado não foi uma obra que me deslumbrou. Por isso mesmo, comprei «Educação Sentimental» há uns meses para dar mais uma oportunidade e por me ter despertado muito, a história. Vamos ver.
Boas leituras, Carlos.
Flannery O'Connor, tão bom!! :)
Recomendo, Pedrita e Denise, mas não é um romance que nos cative logo do início, é daquelas obras que só depois e olhando para o conjunto se depreende toda a sua riqueza.
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