Era uma vez uma escola muito engraçada... tinha varandas vermelhas, alpendres cobertos, vasos floridos, cantaria tradicional, telhados que abrigavam plantas e paredes de argamassa branca entre blocos de basalto escuro...
Só que por decisão superior não tem mais crianças... apesar de continuar orgulhosamente bela.
Ontem acolá... hoje ali... e amanhã aqui, assim o riso e a gritaria das crianças vai-se silenciando pelas nossas freguesias rurais, fruto de um sistema que se julga saudável e humano por retirar as pessoas e as novas gerações do campo.
10 comentários:
Varandas, alpendres,vasos, cantaria...
E quantas crianças lá andavam?
Faço a pergunta porque não sei a resposta. E ela, provavelmente, explica o encerramento.
Compreendo a preocupação, mas há que reconhecer que escolas com meia dúzia de alunos...não são escolas, por muito bonitos que sejam os edifícios.
Abraço.
@ José Quintela
Não sei quantas crianças lá andavam, mas sei que se andavam poucas é porque se tem efectuado polítcas para o despovoamento rural e do interior.
O post é um grito contra as medidas de desrespeito ao meio rural, cujas escolas são um reflexo.
Escolas com meia duzia de crianças não são escolas em Portugal, apenas o são em países Nórdicos ou Canadá, nos seus lugares mais afastados vejam se tiram de lá as crianças como neste país à beira mar.
Por este andar, com estas políticas, vamos assistir ao ressurgimento dos antigos liceus, porque são maiores, têm melhores condições,e vá lá,sempre serão três...
Parabéns pela lembrança do edifício/ escola, numa ilha desconhecida, que está cheia de edifícios magníficos, muitos desconhecidos.
@ anónimo
Dói-me ver como se tratam as pequenas localidades, tirando-lhes condições de vida, roubando-lhes dignidade, esvaziando os campos agrícolas e concentrando as pessoas em urbes maiores, a falta de alunos nestas escolas não é uma causa é uma consequência do que estão a fazer ao meio rural.
Neste caso, doeu-me muito ouvir a notícia sobre esta escola, numa ilha e freguesia que faz parte da minha vida, por coincidência, foram mais duas escolas rurais encerradas na mesma ilha
De uma forma geral, num país onde a desertificação das zonas rurais é uma ameaça constante (tendência que se verifica mais no continente português do que nas ilhas, é verdade) a transferência para as cidades das poucas crianças que ainda marcam presença no meio rural acaba por ser uma ironia.
Amigo:
Não te esqueças que a civilização não está nas escolas das aldeias/freguesias.
O que é preciso é utilizar a freguesia apenas como dormitório.
Ali, os avós já não são precisos.Aprender a amanhar a terra, brincando,já não é para as crianças, mas sim para os "importados".
Como agora se passa o ano,sem saber, o que é preciso aprender são coisas novas: novos vicios, etc.
Esta é para nós uma forma lenta de ir destruindo a familia.
Já se anunciam, "lar precisam-se".
Carissimo
Não será culpa nossam que por egoismo, não seguimos a ordem natural das coisas, e não temos filhos?
Acaso ter filhos no tempo dos nossos avós e cria-los, era fácil?
As nossas escolas não estão vazias por maldade dos governantes.
É por egoísmo nosso que queremos tudo - carros, viagens, casas e telemóveis, mas não queremos as nossas casas cheias de crianças, com risos, choros e energia.
@ mbweblog
Nos Açores a desertificação e envelhecimento da população faz-se mais nas ilhas menores, mas mesmo em São Miguel há grandes perdas de habitantes nos concelhos mais afastados de Ponta Delgada.
@ anónimo 12h16
Em parte essa foi a ideia do último parágrafo do post e que se serviu da escola das Manadas para lançar este grito.
Mesmo nas escolas, há já muito tempo que toda a vida é contada numa exaltação da vida na cidade, como se a do campo não fosse normal e uma opção com igual dignidade. Por isso, desenvolveu-se a ideia de que estudar e ser alguém era ter vida na cidade e abandonar o campo (como se aquela não tivesse amarguras tão grandes ou maiores que a vida rural).
@ anónimo das 18h34
Mas a própria escola me ensinou a mim que era sinal de falta de cultura ser-se pai de uma família numerosa e esses programas que esvaziam o valor da família, da solidariedade entre gerações numa mesma família foram promovidos pelos governantes em muitos países ocidentais e os frutos estão aí.
Não é por acaso que se subsidiou o fim da produção de muitos agricultores sem criar condições que outros em número suficiente ficassem no campo, não foi por iniciativa do povo que se tornou a agricultura de subsistência uma forma de descrédito de rendimento familiar e há muito mais, subentendido naquele último parágrafo do post.
Caro amigo:
Em Portugal continental, sobretudo no interior, é muito pior... O meu concelho de nascimento - Trancoso, no distrito da Guarda - tem cerca de 360 km2 de área e aproximadamente 10.900 habitantes. Tem 29 freguesias e, agora só tem em 3 aglomerados populacionais Escolas a funcionar... Há 30 anos tinhas mais de 50 Escolas!
Pois, mas a haver situações piores não me conforta, apenas me entristece mais ainda.
Nos Açores existem mais escolas abertas porque o limite para o encerramento é mais baixo, caso fosse igual, teríamos menos escolas ainda.
Infelizmente esta sociedade leva ainda que muitos pais coloquem os filhos nos locais de trabalho e não nas suas aldeias de residência, agravando ainda mais o convívio dentro do meio rural de origem.
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