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sábado, 3 de janeiro de 2009

PRESÉPIO DE NATAL

Quando cheguei ao Faial em criança, o Natal nas casas rurais era dominado pelas Prendas do Menino Jesus, sempre dentro dos limites dos escassos rendimentos que a agricultura então permitia;
- as Árvores de Natal, enfeitadas com garrafinhas de cápsulas de injecções embrulhadas em papel de estanho das guloseimas consumidas ao longo do ano, correntes de papel de seda compradas nas mercearias cá da terra e postais vindos das américas;
- os Altarinhos, em pirâmide, forrados de colchas de seda e rendas, iluminados com velinhas e decorados com junquilos, laranjas, tangerinas e pratos de trigo recém-germinado e...

- o Presépio Tradicional, com pequenas imagens de cerâmica ou outros materiais, não faltava a cena da natividade, os reis magos, os pastores e uma representação variada do quotidiano das nossas freguesias rurais. Eram autênticas aldeias, com casas de madeira ou cartão, pastos de líquenes, florestas de musgo, árvores de plantas diversas, caminhos de areia, muros de bagacina, rios de alumínio, lagos dentro de louça... e uma infindável lista de outros objectos que a imaginação do autor utilizava nas suas representações, para que os amigos e a pequenada de toda a comunidade o visitasse durante a quadra.

Hoje o Presépio de Natal é uma raridade, alguns são peças originais de arte contemporânea, mas os tradicionais ainda subsistem por amor de alguns e incentivados por um concurso municipal... António Matos Rocha, um luso canadiano residente no Alto dos Espalhafatos, localidade pertencente à Ribeirinha, todos os anos insiste em fazer o seu presépio e a abrir as portas aos visitantes, este ano manteve a tradição e venceu o primeiro lugar dos presépios tradicionais... Objectos animados, ribeiras de águas correntes, matança de porco, folclore, festa do Espírito Santo, folclore e muito mais a visitar até ao final desta semana nas comemorações do Dia de Reis. Parabéns!

Ah... existiam também os Ranchos de Natal... mas esses não cantavam nas casas, corriam os salões das colectividades, apinhados de gente para os ouvir, bailar e dançar e já foram alvo de atenção no início do ano passado, tal como o presépio de então do mesmo autor.

12 comentários:

Desambientado disse...

Por aqui, no dia de "reises" corriam-se as casas.

Antes de mais parabéns pelo belíssimo poema. Tens que escrever mais.
Quando a 2009, terá certamente, no mínimo, uma imagem por dia, na falta de melhor.

Pedrita disse...

nós temos aqui uma exposição de presépios. beijos, pedrita

Grifo disse...

Eu tive oportunidade de espreitar o carrissimo e belo. Presépio da Igreja Matriz... De um pintor do século XII ou parecido (não memorizei nem o nome nem o século :S). Acho que não o expõem por causa dos roubos...

José Quintela Soares disse...

Seriam Natais economicamente mais limitados, as crianças talvez apreciem mais o que se passa nos nossos dias, mas para os adultos perdeu-se o "espírito" da quadra.
Apenas consumismo, toma lá dá cá...

Bom Ano!

Carlos Faria disse...

ao desambientado
obrigado pelo elogio e irei continuar a espreitar as comemorações do ano internacional da astronomia no teu blog.

à pedrita
ainda bem, por algum motivo portugal e o brasil são países irmãos, deverão partilhar muitas tradições nas suas culturas, além da língua.

ao grifo
não sei a data do presépio, mas deve ser após o século XVII, em portugal há autênticas obras-primas nesse tipo de presépios, conheço dos exemplares magníficos um na sé de lisboa e outro no museu de arte antiga da mesma cidade.

ao josé quintela
infelizmente, penso que a quadra também perdeu muito da mística ao nível das crianças, ainda de lembro do cuidado em se guardar as folhas de estanho dos chocolates ao longo de meses a pensar na árvore de natal e de se andar à procura de frasquinhos de medicamentos durante longos períodos para preparar aquela época.

Grifo disse...

Eu queria dizer XVII... no século 12 era muitooo pouco provavel... deve ser do período barroco onde a arte estava muito relacionada com a religião...

Lc disse...

Bonita tradição a do Presépio, muito mais interessante do que o exército de Pais Natais que vê por aí.

Carlos Faria disse...

ao grifo
eu calculei isso...

ao lc
diverti-me imsenso com essa metáfora do exercito de pais natais, pois destrói tanta tradição

spring disse...

Caro Geocrusoe.
Nós por aqui ainda temos o presépio dos nossos pais, e algumas das peças tem décadas, enquanto outras foi ele que as fez, como a gruta e algumas das casas. No Natal o presépio deixa a nossa arrecadaçao e viaja naquele enorme caixote até ao móvel da sala. Retiramos as suas peças e ao montarmos o presépio, recordamos inevitavelmente, a nossa infância.
Abraço cinéfilo
Paula e Rui Lima

Carlos Faria disse...

ao rui luis lima
ainda bem, não sou contra a modernidade, até aprecio imenso arte contemporânea de vários tipos... sou contra os modernismos que apagam as nossas memórias e deu um exemplo que é possível manter vivas as nossas tradições.

ematejoca disse...

Tenho como tradição ir visitar durante a quadra do Natal todos os Presépios que estao expostos nas Igrejas da NRW. Sem ofender a minha família (sao todos de Düsseldorf), os Presépios mais bonitos estao expostos nas Igrejas Romanas em Colónia.
Leio sempre na blogosfera, que o Natal era mais tradicional e com menos consumismo antigamente. Nem sempre isso é verdade.
Em crianca, o meu Natal em casa dos meus pais era muito mais rico do que o Natal que festejo aqui na Alemanha. Os meus filhos nunca tiveram tantos presentes como eu sempre tive (era filha única)nesse dia.
Quanto ao poema, é realmente, de um poeta brasileiro. Acho-o simples e muito bonito.

Saudacoes extremamente invernais. Há mais de 12 anos que nao havia tanta neve aqui por Düsseldorf.

Carlos Faria disse...

à ematejoca
ainda bem que gosta de presépios, são uma espécie de manifestação artística muito rica e com uma longa história.
Quando se diz que o natal no passado era menos consumista, está-se a falar em média e não em casos individuais. sei muito bem o que é ser filho único por experiência própria, mas a maioria dos faialenses não tinham os natais que este filho de emigrantes podia ter e hoje há crianças que têm natais que os pais não lhes podem dar e isto paga-se caro e médio e longo prazo.
Qualquer forma o que sou é um grande defensor da preservação das nossas tradições.