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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

"Putas Assassinas" de Roberto Bolaño

 

Citação

"Uma pessoa nunca acaba de ler, embora os livros acabem, da mesma maneira que uma pessoa nunca acaba de viver, ainda que a morte seja um dado certo."

"Putas Assassinas" é um livro com 13 contos do escritor chileno Roberto Bolaño, de quem só tinha lido, há muitos anos, o romance que foi um sucesso de vendas quando publicado no início deste século: "2666", que deu a conhecer a todo o mundo este autor já pouco depois da sua morte.

Nestes contos sente-se a a referência frequente a aspetos autobiográficos do escritor, que parece ser o narrador de quase todos eles. Assim, temos relatos com a família na cidade México na sequência da fuga desta do Chile devido ao golpe de estado que derrubou Allende. Há textos com acontecimentos intercalados com reflexões pessoais sob a vida difícil dos poetas e escritores chilenos de esquerda devido à perseguição da ditadura. Em três contos acompanhamos a vida errante de B em vários locais da Europa, nomeadamente Barcelona, onde Bolaño viveu grande parte da sua vida. Temos narrativas que são contadas a ele de experiências passadas por outros refugiados. Os contos sobre terceiros são autênticas descidas ao inferno negro no mundo da prostituição, pornografia e até abusos, não sexuais, de crianças na Índia associados a ritos e crenças religiosas. Certos contos são de uma negritude extrema mas com uma escrita cativante que mesmo no relato do horror dá prazer ler o texto. Não sei se muitas dos nomes referidos nos contos são poetas reais ou ficcionais, mas o conjunto dá a conhecer a dificuldade deste tipo de autores, onde muitos passam incógnitos e com dificuldades pela vida literária, numa luta pessoal pela sobrevivência artística e individual.

Gostei do livro, alguns contos tocaram-me mais do que outros, por vezes existem referências a atos de depravação sexual e uso de termos grosseiros associados, mas nada de erótico, apenas um retrato duro e difícil da vida porque muita gente passa sem o autor fazer uma abordagem moral do assunto. No campo político, a obra é marcadamente de esquerda e honra as vítimas das ditaduras na América hispânica e embora o autor dê a entender que o seu poeta de eleição não seja Neruda, esse surge como um farol no Chile.

3 comentários:

Pedrita disse...

eu tenho que ler algo desse autor. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Olá Pedrita
Dois romances são considerados os mais importantes dele: 2666, que já li, é enorme e de facto para quem gosta é uma obra prima, para quem não gosta da escrita o tamanho é também um obstáculo; e "Detetives Selgagens", que ainda não li.
Nos contos só li este, dá para perceber a escrita, tem contos muitos bons e outros não gostei tanto.

Pedrita disse...

falei de livro no meu blog. beijos, pedrita