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domingo, 22 de março de 2020

"A Aldeia" de William Faulkner


A acabei de ler o romance do norteamericano de William Faulkner, escritor laureado com o prémio Nobel da literatura, "A Aldeia". Esta obra é a primeira de uma trilogia em torno da família Snopes no Mississipi.
Neste romance, passado no meio rural, Will Varner é o rico da aldeia, dono de vastas propriedades incluindo O Velho Domínio do Francês. Praticamente toda a atividade económica gira em torno dele: a produção de algodão, as lojas, os empregados e os arrendatários. Um dia Ab Snopes entra na loja e arrenda um terreno ao filho Jody, mas pouco depois descobre-se que ele já causara problemas a outros rendeiros da vizinhança: associado a fogos sobre armazéns dos proprietários; mesmo assim o negócio avança e pouco depois o filho de Ab, Lem, torna-se empregado da loja e vão chegando outros parentes que se instalam e o clã a cresce na economia numa teia de conluios a que os aldeões assistem e compreendem, sobretudo, através dos comentários de Ratliff que vive na cidade e conhece de infância Ab. Quem se deixará enganar pelos Snopes e até onde irão? Vai-se descobrindo neste volume da Trilogia.
William Faulkner desenvolveu um estilo de escrita literária que pratica neste romance denominado fluxo da consciência: narrativa vai sucessivamente tecendo uma teia de ideias, comentários, descrições da ação, da envolvente cénica, personagens e seu enquadramento que obriga a uma grande atenção. Isto porque do início à conclusão de um parágrafo pode existir um extenso texto cheio de complementos com referência a outros sujeitos, factos, tempos, locais e ações onde nos podemos perder, assim a leitura da narrativa vá-se montando como peças de um puzzle que permitem a compreensão do geral e dos pormenores lançados.
Algumas páginas dão grande prazer de ler pela beleza do texto, outras entram em conflito com a atenção do leitor e tornam-se muito difíceis, embora o tom sardónico por norma presente e o suspense associado às pistas lançadas permitam manter vivo o interesse na continuidade da leitura de quem resista à dificuldade do estilo de escrita. Gostei, até mesmo muito, já tenho comigo os restantes volumes, mas preciso de uma pausa a este esforço de atenção. Desejo retomar os Snopes em breve.

7 comentários:

Pedrita disse...

fiquei curiosa por ser uma trilogia. gosto muito desse autor. mas realmente requer esforço. beijos, pedrita

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Oi Carlos! Espero que estejas bem!

Faulkner é um autor que quero muito conhecer... no momento certo. Alguma dica por onde começar?

Desconhecia que ele tinha uma trilogia.

Abs.

Carlos Faria disse...

Olá Kelly
Estou de quarentena volutária em casa com teletrabalho, pelo que estou bem e minha mãe que é quem mais me preocupa.
O livro mais famoso dele é "O Som e a Fúria" é sem dúvida literariamente e a trama muito bom, mas também é muito difícil.
Luz em Agosto é um pouco maior, mas bem mais fácil e talvez seja uma boa entrada no escritor.
Este tem a escrita mais difícil que o anterior pelo que penso que mão seria o melhor para entrar nele.

Carlos Faria disse...

Pedrita
Um estilo bem diferente para uma escrita do mesmo género no Brasil é Clarice Lispector

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Obrigada Carlos!

Joaquim Ramos disse...

Já estranhava a falta de recensões. Talvez o livro seja extenso. Cuide de sua mãe, a minha está sozinha em casa, mas no domingo não aguentei e fui vê-la com medidas de segurança apertadissimas. Li o Assassinato de Roger Ackroyd e agora As Dez Figuras Negras, ambos da Agatha Christie. Uma coisa mais soft para fazer face aos conturbados momentos que vivemos, embora este último se esteja a revelar de estalo!!!

Carlos Faria disse...

Olá Joaquim
Nos últimos tempos tem tido dificuldade de ter tempo disponível para ler, curiosamente o teletrabalho não ajudou como previa.
As dez figuras estiveram na lista das minhas compras, mas pela sinopse tive dúvidas se não causaria pesadelos a minha mãe.
Estou com uma leitura bem mais ligeira, As mil e uma noite, vol I da E-primatur. Um género de contos encadeados com muito fantástico, um erotismo que se estranha por estar associado à cultura islâmica que por vezes roça ao brejeiro a grosseiro.