Excertos
"Nas ilhas temos de inventar coisas para não morrermos. Temos de viver no meio de ilusões que gostamos muito.""Não vale a pena sair da ilha para procurar paz em outro sítio qualquer."
Este é já o terceiro romance que leio do português Francisco José Viegas. Crime em Ponta Delgada, à semelhança de todos os anteriores, está classificado como policial, género de que fui um grande fã na adolescência. Pela minha parte este autor nas suas obras fala, sobretudo, de melancolia, de memórias, da beleza das terras reais que servem de cenário à estória, do interior das personagens e dos desencontros humanos na sociedade e isto une-se através de uma investigação criminal que atravessa a narrativa e dá corpo ao romance. É esta integração que me agrada nos livros de Viegas.
Um taxista transporta à noite para junto de uma praia nas imediações da cidade de Ponta Delgada um homem que reconhece ser um importante membro do partido do Governo dos Açores, pouco depois encontra-o morto na estrada com uma bala. O Comissário Castanheira em Lisboa sente-se estranho à cidade, divorciou-se da sua mulher com quem continua a conviver, mas decide ocupar uma vaga na ilha de São Miguel e é-lhe de imediato entregue o caso.
Castanheira procura conhecer quem é esta vítima, António Gomes Jardim: faialense, casado com uma continental e regressado ao Faial no período do conflito independentistas da FLA e autonomista do PSD que leva ao poder regional Mota Amaral e com a adesão à vida política Jardim mudara-se para a maior ilha do Arquipélago. Castanheira vai descobrir que este casal de mentalidade moderna e acomodado ao cosmopolitismo da Horta vai entrar em choque com a sociedade conservadora, elitista e reservada do poder político e económico micaelense. Estará perante um crime político entre separatistas e autonomistas ou Jardim terá pisado os usos das grandes famílias de São Miguel e então estaríamos perante um crime passional ou uma vingança de costumes.
Pelo meio Castanheiro terá tempo de descrever ilhas e perceber o que foi a conquista da Autonomia dos Açores, os abusos, os compromissos e os silenciamentos, bem como, o que era o estilo de vida em Ponta Delgada com um estrato social dominador, cheio de abusos ocultos que não permite forasteiros.
Gostei muito, sobretudo porque me recordou uma época que vivi como adolescente e jovem, década de 1970/80, porque curiosamente parte da narrativa ocorre precisamente onde vivi em São Miguel ou na ilha onde resido e vim morar quando criança. Um romance onde a descoberta do interior das personagens e os seus sentimentos são parte importante da narrativa com uma escrita cuidada e cheia de belas descrições humanas e paisagísticas do Faial e São Miguel, além de um retrato de época visto de um ângulo diferente do meu.
Um taxista transporta à noite para junto de uma praia nas imediações da cidade de Ponta Delgada um homem que reconhece ser um importante membro do partido do Governo dos Açores, pouco depois encontra-o morto na estrada com uma bala. O Comissário Castanheira em Lisboa sente-se estranho à cidade, divorciou-se da sua mulher com quem continua a conviver, mas decide ocupar uma vaga na ilha de São Miguel e é-lhe de imediato entregue o caso.
Castanheira procura conhecer quem é esta vítima, António Gomes Jardim: faialense, casado com uma continental e regressado ao Faial no período do conflito independentistas da FLA e autonomista do PSD que leva ao poder regional Mota Amaral e com a adesão à vida política Jardim mudara-se para a maior ilha do Arquipélago. Castanheira vai descobrir que este casal de mentalidade moderna e acomodado ao cosmopolitismo da Horta vai entrar em choque com a sociedade conservadora, elitista e reservada do poder político e económico micaelense. Estará perante um crime político entre separatistas e autonomistas ou Jardim terá pisado os usos das grandes famílias de São Miguel e então estaríamos perante um crime passional ou uma vingança de costumes.
Pelo meio Castanheiro terá tempo de descrever ilhas e perceber o que foi a conquista da Autonomia dos Açores, os abusos, os compromissos e os silenciamentos, bem como, o que era o estilo de vida em Ponta Delgada com um estrato social dominador, cheio de abusos ocultos que não permite forasteiros.
Gostei muito, sobretudo porque me recordou uma época que vivi como adolescente e jovem, década de 1970/80, porque curiosamente parte da narrativa ocorre precisamente onde vivi em São Miguel ou na ilha onde resido e vim morar quando criança. Um romance onde a descoberta do interior das personagens e os seus sentimentos são parte importante da narrativa com uma escrita cuidada e cheia de belas descrições humanas e paisagísticas do Faial e São Miguel, além de um retrato de época visto de um ângulo diferente do meu.
4 comentários:
ainda não li nada desse autor. tb gosto de romances policiais e por motivo muito parecido. foi agatha christie a maior responsável pelo meu prazer de leitura. beijos, pedrita
Ágata, de que minha mãe é fã, tem a característica de eliminar tudo o que é supérfluo ao desenrolar da investigação as suspeitas, ao contrário de Carré, Greene na espionagem ou de Simenon que têm mais de reflexão sobre as personagens e os seu polícias, Viegas junta ainda situações excecionais reais (Expo98, Capital Europeia de Cultura, Campeonatos desportivos, momentos políticos) para descrever pormenores de tais eventos e ainda falar da paisagem e do ambiente da zona da narrativa, além de expor a alma do seu protagonista
Duas perguntas: qual o melhor policial do F.J.Viegas que tenha lido e se gosta mais da sociedade micaelense ou faialense.
Boa tarde.
Não li tantos policiais de FJV quanto isso para já ter uma amostra representativa. Dos 3 livros que li "Um Crime Capital" pareceu-me o mais consistente. Momentos algo trágico-cómicos intercalados com a melancolia das personagens.
Crime em Ponta Delgada é uma obra de juventude do escritor, teria 25 anos à data e isso nota-se nalguns pormenores. Como Açoriano não vejo tudo bem como ele e as sociedades micaelense e faialense de 1980 não são iguais às de 2019, vivi em Ponta Delgada em 1987, na altura professor do ensino obrigatório, estreei-me numa sociedade estratificada onde os filhos das famílias bem não conviviam no mesmo mundo dos outros. Tive amigos trabalhadores que não iam a certos cafés que eram para gente mais fina mas como professor frequentei os dois estratos. Vi o conservadorismo, vi a clausura de mulheres e vi o servilismo de alguns. Sou Faialense de crescimento, já vira alguma estratificação suave na sociedade mas onde todos conviviam, sempre vi estrangeiros connosco, mulheres na rua, raparigas a sair com rapazes e os nossos cafés eram uma amostra de todo o tipo de pessoas da ilha e sinto-me melhor neste tipo de sociedade.
Nos 3 livros a resolução parece-me ser um acessório para pôr termo à história e não aprofunda todos os pormenores, mas na vida real não será assim o que a judiciária entrega da sua investigação para julgamento?
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