Excertos
"O que sabem as mulheres dá para arrasar montanhas.""A experiência faz o cavalheiro, o treino faz a profissão."
" - Abandonas a política? ...
- Nunca. É como uma árvore que não dá fruto mas que dá sombra."
Acabei de ler o último romance escrito por Agustina Bessa-Luís (escritora portuguesa de culto, talvez aquela com a produção literária mais profícua do século XX de cerca de 50 livros, maior número de prémios e recentemente falecida): "A Ronda da Noite".
O romance roda em torno da vida de Maria Rosa: uma mulher bonita, casada no Porto na família burguesa Nabasco, que gosta de se vestir bem, ir às compras e de receber na sua casa amigos que comentam a sociedade portuguesa. A narrativa também se debruça sobre o neto Martinho que a protagonista criou e vive na mesma casa. Os Nabascos ricos vivem ociosamente do seu nome, das relações sociais com um passado próximo da realeza e do seu património constituído por moradias rurais e no Porto. O marido de Maria Rosa tem um quadro que não se sabe de onde veio, se é o original ou uma réplica de A Ronda da Noite de Rembrandt, esta obra vai impondo a sua presença na família e no desenvolvimento da personalidade de Martinho, que não tem uma profissão, se ocupa do restauro das casas da família e para o qual a avó até lhe criou e lhe entregou a mulher, órfã, acolhida e filha de uma mãe assassinada e de pai preso.
Como na generalidade dos romances de Agustina, as mulheres são as personagens fortes, neste Martinho ocupa um papel relevante, mas a sua fragilidade, inadaptação social e indecisão servem de contraponto à força de Maria Rosa. A narrativa é marcada pelo seu estilo habitual de divagações a partir de um tema que vão divergindo e entroncar-se noutro e retomado outra sequência, onde a estória vai sendo composta por sobreposição deste fluxos narrativos aparentemente caóticos.
Assim, como habitual nos livros que li de Agustina, a estória dá-me a sensação de se ir compondo lentamente como no pintar de um quadro a espátula que vai traçando diferentes manchas, ora num local da paleta, ora noutro e a imagem vai sobressaindo desta montagem.
Pelos ditos sábios de Maria Rosa que não carecem de demonstração, dos seus criados mais próximos, pelos hábitos do marido, pelas conversas oportunistas dos amigos onde uns vão desaparecem novos e outros a acompanham e envelhecem, pelos reparos do comportamento social do norte e dos portugueses, pelas denúncias dos vícios ocultos dos Nabascos ou da burguesia portuense, pelas mudanças de comportamento desde o tempo do Estado Novo, Revolução de Abril, democracia e integração Europeia, pelos interesses da sua filha como herdeira do património da família, casada em segundas núpcias com um oficial da armada em Lisboa e mãe dos outros netos distantes, "os cadetes" com um estilo mais contemporâneo e urbano; Agustina faz um retrato social do Portugal burguês, do norte do País e das pessoas que vivem em torno deste estrato social e do evoluir político.
Entretanto, a Ronda da Noite, que obrigou a obras em moradias para o seu acolhimento, que se suspeita do seu elevado valor, vai-se impondo cada vez mais pelas suas personagens e diferentes, posturas no quadro sobretudo a Martinho, até à solução final e degradação desta família.
As obras de Agustina, são assim: peças de culto, para muitos difíceis, que se vão abrindo ao leitor que se entregar passivamente a uma narrativa sem pressa e sem uma linha única do tempo ou espaço que no fim compõe um excelente quadro como o da mais famosa obra de Rembrandt e eu continuo fã desta escritora que de forma única mostra este Portugal cheio de defeitos mas de que se gosta.
O romance roda em torno da vida de Maria Rosa: uma mulher bonita, casada no Porto na família burguesa Nabasco, que gosta de se vestir bem, ir às compras e de receber na sua casa amigos que comentam a sociedade portuguesa. A narrativa também se debruça sobre o neto Martinho que a protagonista criou e vive na mesma casa. Os Nabascos ricos vivem ociosamente do seu nome, das relações sociais com um passado próximo da realeza e do seu património constituído por moradias rurais e no Porto. O marido de Maria Rosa tem um quadro que não se sabe de onde veio, se é o original ou uma réplica de A Ronda da Noite de Rembrandt, esta obra vai impondo a sua presença na família e no desenvolvimento da personalidade de Martinho, que não tem uma profissão, se ocupa do restauro das casas da família e para o qual a avó até lhe criou e lhe entregou a mulher, órfã, acolhida e filha de uma mãe assassinada e de pai preso.
Como na generalidade dos romances de Agustina, as mulheres são as personagens fortes, neste Martinho ocupa um papel relevante, mas a sua fragilidade, inadaptação social e indecisão servem de contraponto à força de Maria Rosa. A narrativa é marcada pelo seu estilo habitual de divagações a partir de um tema que vão divergindo e entroncar-se noutro e retomado outra sequência, onde a estória vai sendo composta por sobreposição deste fluxos narrativos aparentemente caóticos.
Assim, como habitual nos livros que li de Agustina, a estória dá-me a sensação de se ir compondo lentamente como no pintar de um quadro a espátula que vai traçando diferentes manchas, ora num local da paleta, ora noutro e a imagem vai sobressaindo desta montagem.
Pelos ditos sábios de Maria Rosa que não carecem de demonstração, dos seus criados mais próximos, pelos hábitos do marido, pelas conversas oportunistas dos amigos onde uns vão desaparecem novos e outros a acompanham e envelhecem, pelos reparos do comportamento social do norte e dos portugueses, pelas denúncias dos vícios ocultos dos Nabascos ou da burguesia portuense, pelas mudanças de comportamento desde o tempo do Estado Novo, Revolução de Abril, democracia e integração Europeia, pelos interesses da sua filha como herdeira do património da família, casada em segundas núpcias com um oficial da armada em Lisboa e mãe dos outros netos distantes, "os cadetes" com um estilo mais contemporâneo e urbano; Agustina faz um retrato social do Portugal burguês, do norte do País e das pessoas que vivem em torno deste estrato social e do evoluir político.
Entretanto, a Ronda da Noite, que obrigou a obras em moradias para o seu acolhimento, que se suspeita do seu elevado valor, vai-se impondo cada vez mais pelas suas personagens e diferentes, posturas no quadro sobretudo a Martinho, até à solução final e degradação desta família.
As obras de Agustina, são assim: peças de culto, para muitos difíceis, que se vão abrindo ao leitor que se entregar passivamente a uma narrativa sem pressa e sem uma linha única do tempo ou espaço que no fim compõe um excelente quadro como o da mais famosa obra de Rembrandt e eu continuo fã desta escritora que de forma única mostra este Portugal cheio de defeitos mas de que se gosta.
7 comentários:
Embora seja um romance da minha escritora de eleição, ainda não o li. Após a leitura da sua excelência apresentação, vejo a minha família espelhada nessa família portuense. Um romance que quero ler o mais depressa possível. AGUSTINA SEMPRE 💙
Tal como em Ana Karennina, cada família é à sua maneira. Mas com certeza que verá pontos de contacto e sentirá por trás o Porto e o Norte.
Na constelação dos personagens de Ana Karenina não vi espelhada a minha família. No romance de Orhan Pamuk ISTAMBUL é a descrição exacta da minha família burguesa, especialmente a relação da minha mãe e do meu padrasto.
Não li Istambul, mas gostei do que li de Pamuk
só li sibila até agora dessa autora, quero ler outros. achei uma editora no brasil q publica livros de autores portugueses. vou ficar atenta. beijos, pedrita
Fanny Owen é considerado outras das principais obras dela, é pequenino mas ainda não li, mas está cá em casa. Romances como os da trilogia do Princípio da Incerteza, Os meninos de Ouro, A Quinta Essência (gostei muito mas denso) e Vale Abraão estão entre os mais conhecidos.
Já li muitos livros da Agustina, mas este é um dos (muitos) que ainda me falta ler; pudera, ela escreveu tantos, acho que nunca conseguirei lê-los todos, precisaria de mais umas quantas vidas...
🌲
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