Excerto
"... a mente que outrora se tinha revoltado contra os deuses estava prestes as ser destronada fruto do seu próprio extraordinário alcance. Numa versão comprimida, inventaríamos uma máquina um pouco mais inteligente do que nós... ...Que necessidade haveria então de nós?"Acabei de ler o último romance do inglês Ian McEwan, que me tem fascinado nos últimos tempos e este apesar de me ter surpreendido em muitos aspetos não me desiludiu
"Máquinas como Eu" possui um conjunto de originalidades: é do género ficção científica mas passa-se no passado, década de 1980; está imbuído de referências históricas da época, mas estas por norma têm sentido oposto ao dos acontecimentos então ocorridos de facto adiciona até subtilezas dos problemas atuais do Brexit; apesar de conter andróides que nem hoje existem e especular sobre a sua humanidade, inclui um conjunto de tecnologias, gadgets e internet que então não existia e ainda transportando para o momento génios reais há muito então desaparecidos, surpreendendo-nos a cada passo com estas alterações ficcionadas. Penso que a geração jovem atual pouco conhecedora do passado recente talvez nem se aperceba como McEwan reconta a história contemporânea da juventude dos seus pais, mas para estes parece-me interessante verem uma realidade diferente da que assistiram.
Charlie Friend com o dinheiro da herança da mãe opta por comprar um exemplar da última geração de robôs humanizados, como os de género feminino esgotaram ficou-se por um Adão. Este tem opções de programação de personalidade, Charlie opta então que as características sejam selecionadas a 50% por ele e os restantes pela sua amiga/vizinha por quem está apaixonado, para que ele se torna como um filho de ambos. Só que Adão não é uma simples máquina, aprende, desenvolve comportamentos sentimentais e sexuais, tem uma lógica nas relações humanas e de paixão incapaz de integrar a hipocrisia das pessoas que viabiliza um entendimento social e este choque vai colidir com os problemas pessoais de Adão e da namorada e com reflexos na justiça e neste amor triangular.
McEwan escreve de uma forma que intercala beleza literária e poética ao texto com reflexões oportunas sobre o limite da distinção e sobreposição de carácter do que é um ser humano ou uma máquina e várias outras questões éticas e sociais não só da década de 1980, como também do passado e presente face ao evoluir dos conhecimento, da tecnologia e respetivos choques com a fé/crença íntima de cada um. Gostei muito .
Charlie Friend com o dinheiro da herança da mãe opta por comprar um exemplar da última geração de robôs humanizados, como os de género feminino esgotaram ficou-se por um Adão. Este tem opções de programação de personalidade, Charlie opta então que as características sejam selecionadas a 50% por ele e os restantes pela sua amiga/vizinha por quem está apaixonado, para que ele se torna como um filho de ambos. Só que Adão não é uma simples máquina, aprende, desenvolve comportamentos sentimentais e sexuais, tem uma lógica nas relações humanas e de paixão incapaz de integrar a hipocrisia das pessoas que viabiliza um entendimento social e este choque vai colidir com os problemas pessoais de Adão e da namorada e com reflexos na justiça e neste amor triangular.
McEwan escreve de uma forma que intercala beleza literária e poética ao texto com reflexões oportunas sobre o limite da distinção e sobreposição de carácter do que é um ser humano ou uma máquina e várias outras questões éticas e sociais não só da década de 1980, como também do passado e presente face ao evoluir dos conhecimento, da tecnologia e respetivos choques com a fé/crença íntima de cada um. Gostei muito .
6 comentários:
eu adoro esse autor, quero muito ler. beijos, pedrita
Curiosamente esta semana já saiu mais um romance dele, pelo que este já não é o último.
Deste autor por ser recomendado, comprei o Solar mas ainda não o li.
Acabei de ler Justine, o primeiro tomo do Quarteto de Alexandria, que o Carlos em boa hora me sugeriu. Gostei bastante, e ao vir atrás e ir à frente e voltar a trás novamente, já quase o li duas vezes. Excelente.
Que pena não ter gostado muito do Coelho Enriquece, o meu preferido da tetralogia. Sei que a linguagem é explicita e sem filtro no que toca ao sexo, mas depois de ter entrado nela já não a estranhei. Creio que Updike pretendeu contrariar a respeitabilidade do puritanismo protestante reinante.
Solar é uma paródia que envolve alterações climáticas, manipulações e cientistas que se deixam levar pelas suas hormonas, diverti-me muito mas não deixa de ser uma brincadeira, este e Amesterdão (o primeiro que li) são mais sérios.
Numa Casca de Noz também é divertidíssimo, uma história de crime observada e narrada de dentro da placenta.
Todo o Quarteto é uma maravilha literária, um Nobel não recebido porque à data politicamente deveria ser dado a outro.
Em compensação gostei muito do quarto volume de Coelho, acredito que ele quis gozar com esse puritanismo protestante, mas existe mais mundo além das hormonas ;-)
Espero que o furacão Lorenzo não cause danos às ilhas das Flores e Corvo. Agora fala-se em S.Jorge, Pico e Faial - grupo central. Se puder dar notícias (daquelas que não se vêem na TV) agradeço.
Que tudo corra bem.
Eu ultimamente aqui falo quase só de livros mas se tiver facebook ou twitter ou wordpress nesses espaços falo do que por cá vai acontecente e faço uma síntese para a população local em termos de proteção civil, deformação profissional.
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