Excerto
"É verdade que as melhores coisas da vida estão à livre disposição de qualquer um, mas ninguém é suficientemente livre para desfrutar as melhores coisas da vida.""Antigamente, os mais amargos reveses da vida enriqueciam apenas os corações dos desgraçados ou tinham unicamente um valor espiritual. Mas hoje em dia qualquer acontecimento pavoroso pode ser transformado numa mina de ouro."
Ao fim de muitos anos voltei a Saul Bellow, vencedor do Nobel da literatura, nascido no Canadá, de ascendência judia e naturalizado Norte-Americano, através do romance: O legado de Humboldt.
Charlie Citrine parte do interior dos EUA para Nova Iorque com o objetivo de conhecer o poeta que o deslumbrou: Humboldt. Com este desenvolve uma amizade profunda que acompanha o auge da carreira dele, só que esta entra em declínio enquanto a de Charlie caminha para o sucesso. Este vem para Chicago onde cresceu, só que a ascensão não é bem digerida por quem entrou em decadência, o que leva ao distanciamento entre ambos, mas não ao fim da admiração. Quando na meia-idade a vida de Citrine se começa a complicar, culturalmente e ao nível privado, já Humboldt morreu, mas ficaram as recordações e as lições por ele deixadas, enquanto se embrulha com mulheres, divórcio e amigos pouco abonatórios da cidade dos gangsters, é então que vem a descobrir que não foi esquecido pelo seu antigo amigo que lhe deixou um legado e a vida dará uma volta.
Bellow escreve bem, de uma forma realista, crua e cobre tudo isto com ironia amarga, humor inteligente e crítica ao estilo de vida norteamericano e de Chicago, que é fútil, onde imperam sonhos básicos capitalistas. Tudo isto é intercalado com numerosas referências/citações culturais, religiosas e filosóficas de pensadores do ocidente. Assim, a narrativa desta amizade serve de pretexto para retratar a sociedade dos Estados Unido, onde o dinheiro complica as relações humanas e os sentimentos, as escapatórias no sexo são normais e os oportunistas pululam construindo fachadas de sucesso e abusando da bondade, o que cria momentos de depressão, vazio moral e sede do transcendente.
Apesar de extenso, mais de 500 páginas, gostei muito, durante dias vivi as amarguras e desventuras deste génio cheio de recordações que nunca perdeu a admiração e amizade pelo seu ídolo cultural numa América oca, onde o dinheiro e a ânsia de sucesso são o modo de vida por excelência.
5 comentários:
faz tempo que eu li uma obra dele, mas confesso que não lembro qual. esse eu acho que não foi. beijos, pedrita
Este é o único livro de Bellow que li, há alguns anos, e gostei muito. Tenho vontade de ler mais do autor.
Pedrita
Penso que Herzog é o mais famoso dele, mas quando o li não gostei tanto.
Bárbara
Ainda não sei qual será o próximo, mas fiquei com vontade de voltar a ler Bellow.
Li alguns livros dele incluindo o "Herzog", mas nunca foi um dos meus eleitos, no sentido de quando sai um livro "ir a correr comprar" :-)
Bom dia!
Mister Vertigo
Herzog fora precisamente o livro que antes lera há já vários anos e embora tenha gostado não me cativou intensamente, gostei muito mais deste e talvez volte a Bellow agora mais rapidamente.
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