Excerto
"Conversa estúpida. Palavras ocas. Personagens mortos. Mas eu ali estava, com os meus fantasmas, e, se fecho os olhos, recordo-me que uma senhora de idade, com avental branco, nos veio anunciar que o jantar estava pronto."
Nunca ouvira falar do escritor de França Patrick Modiano até ao dia em que lhe foi atribuído o prémio Nobel em 2014 e não me despertou curiosidade para o conhecer imediatamente. Uma promoção deste pequeno romance "As avenidas Periféricas" que também ganhara o também o prémio da academia francesa em 1972 foi a pedra de toque para contactar com o autor.
Sabia que o Nobel lhe fora atribuído pela sua arte de escrever acerca de memórias em França no tempo da ocupação nazi e este livro reúne esse aspeto.
O narrador recorda cenas no bar de uma pensão numa aldeia de férias de campo na vizinhança de Paris, onde três homens conversavam, um deles era seu pai. Aos poucos vamos conhecendo estas personagens e a que se dedicavam, percebemos que a sua atividade levanta mais dúvidas sobre o carácter desta gente e das mulheres com quem convivem do que certezas, quem é este pai? uma incógnita de quem o filho se afastara e com quem aprendera técnicas de vigarice. O que fazem? Porque o pai se aproximou deles? Que riscos corre? Porque sente o filho a vontade de proteger o seu progenitor? Quem foram aquelas pessoas e como chocam aquela aldeia pacata? Que boatos os cercam?
A descoberta da verdade não é o mote do romance, mas as questões em reboliço, as tensões subjacentes, os sentimentos nesta aproximação filial e depois como terminou naquele país invadido que mais não era do que uma prisão desesperada para todos, inclusive gente fútil e pessoas de passado obscuro.
Curiosamente o romance recordou-me o modo como são expostas muitas personagens em António Lobo Antunes, o drama psicológico das relações humanas e apesar de não ter desgostado desta obra, prefiro na generalidade as do português que as pontas em aberto do laureado com Nobel neste seu livro.
2 comentários:
eu nnao lembro se li algo dele, mas tenho quase certeza que não. beijos, pedrita
Li mais para conhecer um recém-galardoado do que por me despertar interesse, mas não fiquei motivado para explorar a sua obra, nem rejeito a possibilidade de o voltar a ler se a ocasião de proporcionar.
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