Nunca ouvira falar de Siri Hustvedt, mas ao ver elogios ao seu romance: "Elegia para um Americano", por gente que reconheço como exigente e apreciadora de boa literatura, esta escritora, cujo nome não soa a americano (descende de imigrantes da Noruega) e mulher do famoso Paul Auster, despertou-me curiosidade suficiente para ler esta obra e deparei -me com uma boa e original obra literária.
Erik, um psiquiatra de Brooklin a sair de uma situação de divórcio, após a morte do pai, de origem norueguesa, numa pequena cidade no Minnesota, descobre junto com a irmã notas e um diário deste; papeis que servirão para o conhecer melhor e deparam-se com a existência de um segredo antigo que com sua irmã tentarão descobrir. No regresso à NY, Erik na sua solidão recente, aluga um anexo a sua casa a uma mãe jamaicana por quem começa a sentir-se atraído, esta tem uma criança que se aproxima dele, mas todos ficam sob pressão do pai de sua filha um artista fotógrafo.
A partir deste início há uma série de textos e análises psicológicas (não há capítulos) que ora são transcrições do diário (em nota final descobre-se serem mesmo reais e pertencentes ao pai da escritora recentemente falecido); ora são reflexões e descrições de aproximação à hóspede e das ameaça do fotógrafo; ora narrativas de situações sobre a instabilidade emocional da irmã: viúva de um escritor famoso e alvo de pressão com a descoberta de uma passada relação extraconjugal deste e existência de pessoas a pretender tirar proveito, enquanto, como mãe, tenta poupar a filha, uma adolescente que desperta para o mundo adulto e suas contradições; incluindo ainda exposições dos casos dos doentes psiquiátricos de Erik e dos aconselhamentos com colegas de profissão sobre a sua situação e ainda outros relacionados com a investigação do segredo guardado pelo pai.
Assim, em vez de uma trama linear, Siri Hustvedt cria uma árvore com múltiplas raízes e ramos que constroem uma unidade completa e onde se aborda os problemas da solidão urbana, das relações pais, filhos, esposos e complexos de culpa que se criam nestas uniões e desuniões; bem como as dores de crescimento humano que dão um retrato profundo da alma social e das pessoas.
Sou de opinião que só um excelente escritor consegue criar uma personagem completa e credível de sexo diferente do seu, mais ainda, como homem, sinto mais habilitado a reconhecer esta capacidade se estamos perante uma autora que cria um protagonista masculino com pormenores suficientes para o termos não só na imagem de macho em sociedade, mas o conhecimento do seu íntimo. Siri faz isto com uma perfeição e elegância a que não estou habituado, evidenciando que tem grandes méritos que fazem com que o dom literário se deva à sua genialidade e não à sombra da notoriedade do marido.
Não se trata de uma construção literária alegre, o próprio título em português e em inglês "The sorrows of an American" denunciam isso: a solidão individual atravessa toda a obra, bem como as dificuldades no relacionamento entre as pessoas e a compreensão do comportamento do outro, mas é uma magnífica peça literária cheia de conteúdo introspectivo sem facilitismos comerciais. Recomendo a quem gosta de um bom livro pelo seu valor literário.
5 comentários:
amei a capa. sua resenha me deu muita vontade de ler. beijos, pedrita
Sim a capa,além de bonita, tem muito do conteúdo do livro: a imagem de Brooklin e a solidão expostas de uma forma bela, não deve ser um livro muito comercial, mas sem dúvida muito bom.
carlos, falei de livro no meu blog.
Eu quero ler. Eu li dois livros dela e gostei muito dos dois. Estão no meu blog pequenos comentários sobre a Siri, que fiquei conhecendo através do Salmon Rushdie que a cita no seu livro biografico "Joseph Anton". Ela e o marido são amigos pessoais do Rushdie.
Um livro simpático, bem desenvolvido
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