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quinta-feira, 30 de março de 2017

"The Origin of Species" de Nino Ricci


Após uns tempos sem ler obras de literatura de ficção canadiana no original, espreitei a minha prateleira dedicada a estes livros e selecionei "The origin of Species" estreando-me em Nino Ricci, um escritor contemporâneo que foi premiado com o Governor General Prize for English fiction lpgo no seu primeiro romance em 1990, o galardão nacional literário mais prestigiante do País, e voltou em 2008 a ser o vencedor deste prémio com este título influenciado no trabalho e na personalidade de Charlles Darwin.
The Origin of Species" apesar de parecer complexo pelo número de temas abordados abaixo, introduzidos pelas diversidade das personagens, o enredo desenrola-se com uma narrativa fácil de se ler.
Alex Fratarcangeli de Toronto, com as suas raízes italianas pouco assumidas, em 1986 encontra-se a fazer a sua tese de doutoramento em Montreal sobre a influência da evolução das ciências na literatura, isto numa cidade sujeita à tensão linguística, política e cultural do Quebec
Alex vê-se então confrontado entre uma separação recente que o leva a consultas psiquiátricas em que omite o essencial; dúvidas sobre a via a desenvolver no seu trabalho universitário e ainda com as perturbações fruto das suas paixões passageiras com mulheres; as relações com estudantes de inglês refugiados no Canada devido à guerra de El Salvador, sobretudo María e o irmão; o apoio a dar ao seu orientador checoslovaco, desalojado por um divórcio e com problemas dos atos de cabeça-rapada do filho; o modo de manter o convívio com um aluno particular francófono, homossexual não assumido e o temor difundido na época pelos noticiários dos efeitos de Chernobyl e da epidemia da SIDA.
Já no debate de todas estas tensões cruza-se com um inquilina do prédio que sofre de Esclerose Múltipla avançada com quem desenvolve uma amizade e recebe uma carta de uma sueca mais velha com quem teve uma relação anterior a comunicar-lhe que ele tem um filho com cinco anos o que o leva a refletir sobre o significado da sobrevivência, das relações humana, da vida confrontado com a memória de uma viagem desastrada a acompanhar um investigador botânico inglês de difícil trato numa expedição ilegal nas Galápagos cujas memórias dos seus ditos se tornam pistas para as suas reflexões sobre o essencial das suas opções.
Nino Ricci mostra-se um mestre em gerir tensões psicológicas, dúvidas interiores e temas sensíveis face a uma sociedade diversificada com preconceitos, em competição e cheia de problemas, através de uma narrativa com recurso a uma linguagem simples, frequentes saltos no tempo a partir da memórias de Alex e as descrições de desventuras do dia-a-dia apresentados de uma forma irónica e divertida mas que abrem a porta a introspeções, autoanálise, crítica social e política e comparações com os dilemas da vida de Charles Darwin com os choques das suas investigações com as mentalidades e crenças religiosas na sua vida familiar e social e onde o confronto com o trabalho em preparação de Alfred R Wallace fará quebrar todas as amarras à semelhança do que ele mesmo terá de fazer face à descoberta de um filho que será como as madalenas da obra de Proust.
Afinal todos resultamos desta evolução e seleção natural onde compartilhamos genes entre anglo-saxónicos e franceses, entre machistas latinos no seio da guerra, a suecas desinibidas convertidas aos dilemas de Alex e Darwin. 
Nino Ricci em 27 anos apenas publicou 6 romances, destes 5 foram premiados com 8 prémios nacionais, além de um best-seller com a biografia de Pierre Trudeau, mostrando que apesar de pouco traduzido fora do Canada se está perante um dos escritores mais importantes do País. Gostei muito, apesar de já não estar habituado à leitura em inglês mas é uma excelente obra para imersão nesta língua e na cultura Canadiana.

5 comentários:

Pedrita disse...

confesso que não conhecia. belíssima capa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Normal, não está traduzido para português, nem em Portugal, nem no Brasil, o que também demonstra bem que pelo panorama editorial na nossa língua ficamos limitados e sem conhecer muito do que de bom se produz por esse mundo fora.

DIARIOS IONAH disse...

Verdade. Se fossemos ler todos os escritores do mundo a vida seria apenas numa poltrona! Conheceu Buzios, no Rio de Janeiro? Meu lugar preferido aqui no Brasil! Falo pouco do livro que eu leio,para que quem vá ler não se sinta influenciada.

Carlos Faria disse...

O aspeto que quis levantar foi a existência de grandes escritores de qualidade cujas editoras não disponibilizam traduções na nossa língua. Claro que não podemos cobrir todos os escritores, mas curiosamente a editoras não se furtam a traduzir maus escritores vendáveis em supermercados.
Sim estive em Búzios e várias zonas em torno da cidade de Rio, nomeadamente Angra dos Rei, viajei de trem pela serra junto a esta cidade, fui a Petrópolis, Nova Friburgo e passeei pela serra dos Órgãos e andei por outros locais cujos nomes já me perdi.

DIARIOS IONAH disse...

Legal. Eu adoro viajar aqui no Brasil. Temos muitos lugares interessantes. Sim o mercado editorial é complicado. Ontem fui em uma famosa livraria aqui do Rio de Janeiro e comentei com a minha filha, como tem livros ruins editados e à venda enquanto poucos bons!