"Mendigos e Altivos" do escritor egípcio Albert Cossery, de expressão francófona e galardoado com o grande prémio da francofonia em 1990, desenrola-se no meio que o autor usa na generalidade das suas obras; os bairros pobres e árabes do Cairo, e, como norma, utiliza a ironia e o sarcasmo, para não só criticar o mundo, como ainda evidenciar a dignidade dos miseráveis, mas cultivando um estilo de permanente humor, mesmo na descrição das situações mais sórdidas em que os seus personagens vivem nas margens do setor europeizado da cidade.
Gohar, um professor universitário e de grande sabedoria cultural, abandonou o seu meio para viver miseravelmente como mendigo e fumador de haxixe no seio do bairro árabe pobre, onde encontra a sua paz no seio de gente excluída, mas que não se deixa enganar pelo sistema, surgem ainda os discípulos das suas ideias e exerce a contabilidade de um bordel. Por impulsão torna-se assassino de uma prostituta e começa então a investigação por um chefe de polícia inquieto, infeliz e pederasta, mas culto, vindo do mundo institucional, desfila então um conjunto de personagens cheias de sabedoria e sobreviventes da injustiça, mais ou menos felizes, mas em paz consigo mesmo que são os amigos e conhecidos do professor que mostram ao chefe do inquérito os valores e as razões do orgulho das suas vidas.
Um excelente romance magnificamente escrito e cheio de bom humor, que mais do que denunciar as injustiças e a desigualdade, mostra o amor próprio e a felicidade que pode alastrar nos excluídos em contraste com um mundo moderno hipócrita, opressivo e infeliz dos integrados na sociedade. Tal como o primeiro livro deste escritor que aqui falei, novamente gostei muito e recomendo a qualquer leitor e Albert Cossery é sem dúvida um autor que merece ser conhecido de todos.
10 comentários:
fiquei curiosa. anotado. beijos, pedrita
Vale a pena conhecer este escritor é de facto único e muito bom, embora a sua fama fora da francofonia não atinja o nível da sua qualidade, talvez pelo declínio cultural desta língua face aos que escrevem em inglês e ao marketing anglo-saxónico.
obrigada. falei de livro no meu blog.
Eu fiquei curiosa. Não sou amante da cultura e nem da lingua francesa, mas anotei a sugestão para esse autor. Obrigada.
Eu passei a nutrir uma antipatia pessoal pela França na sequência de uma intervenção política no Quebec aquando do referendo para a independência deste, pelo que agora quando reconheço algo de valor ao nível da produção cultural do mundo francófono é porque vale a pena, apesar da ligação à França.
Olá Carlos.
Daqui a pouco há festa no Numa de Letra. Vêmo-nos por lá?
Um abraço.
Comprei e já estou lendo esse livro! Graças a Pedrita! Vou comentar no meu blog de livros, em breve, no ABRKDBRA-COISASDAVIDA.
E estou gostando muito; depois de sair do fausto da corte de Catarina, a Grande, estou eu mergulhando no mundo da pobreza ignóbil do Egito!
Nunca gostei da França, mas curto alguns escritores e alguns filmes....
Só que Cossery é de escrita francesa por pertencer a uma família culta egípcia mas não é de França e é um magnífico escritor.
Carlos Faria,
Li e gostei muito dessa sua indicação. E graças a Pedrita consegui o livro. Obrigada. Um abraço.
Comecei a ler o livro e vou terminá-lo. Agradeço a sugestão e comentários. Bom Ano 2022!
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