"Os Demónios" será outro livro de Fiódor Doistoievski que me vai deixar marcas profundas na minha carreira de leitor e apesar de parecer menos citado que outras obras deste escritor russo, como: "O Idiota" e o "Os Irmãos Karamazov" já dissertados neste blogue, a verdade é que pelo tema e estrutura, despertou-me um interesse não inferior aos acima citados e ainda levantou-me questões sobre o mundo atual.
Depois do romance apresentar algumas personalidades de uma cidade provincial russa, dois revolucionários clandestinos voltam a esta terra natal com a missão de ali criar um núcleo de agitadores, fundado numa estratégia de luta nacional e internacional. Um destes, sem qualquer escrúpulo, aproveita a situação para além de agitar a vida social local e destruir o governo provincial, implementar ainda com uma estratégia despudorada para cimentar o núcleo clandestino em desrespeito à ética, vingar-se em alguns elementos do grupo por questões pessoais e até servir-se de filosofias individuais em proveito próprio e dos ideais políticos que propõem.
Dostoievski, como normal na sua obra, cria personagens complexas, psicologicamente extremadas e coloca-as intervenientes numa sociedade onde se denunciam os seus defeitos e a forma de pensar e agir russa. Reúne assim figuras contraditórias em situações de debate e choque de ideias com uma elevadíssima carga dramática características de representações teatrais e desencadeia uma série frenética de acontecimentos que acaba em catástrofe.
Alguns debates são profundamente filosóficos: a importância de um suicídio racional de um ateu para demonstrar a inexistência de Deus, este, em paralelo, levanta questões éticas ao servir de aproveitamento para fins de guerrilha. Outros desenvolvimentos mostram o choque de consciência moral entre a pureza das ideias, os meios para as implantar e a manipulação despudorada de pessoas aderentes à causa para se alcançar o objetivo pessoal em detrimento do político e social. Um livro que em paralelo leva a refletir sobre a confusão que reina na Europa atual
Depois do romance apresentar algumas personalidades de uma cidade provincial russa, dois revolucionários clandestinos voltam a esta terra natal com a missão de ali criar um núcleo de agitadores, fundado numa estratégia de luta nacional e internacional. Um destes, sem qualquer escrúpulo, aproveita a situação para além de agitar a vida social local e destruir o governo provincial, implementar ainda com uma estratégia despudorada para cimentar o núcleo clandestino em desrespeito à ética, vingar-se em alguns elementos do grupo por questões pessoais e até servir-se de filosofias individuais em proveito próprio e dos ideais políticos que propõem.
Dostoievski, como normal na sua obra, cria personagens complexas, psicologicamente extremadas e coloca-as intervenientes numa sociedade onde se denunciam os seus defeitos e a forma de pensar e agir russa. Reúne assim figuras contraditórias em situações de debate e choque de ideias com uma elevadíssima carga dramática características de representações teatrais e desencadeia uma série frenética de acontecimentos que acaba em catástrofe.
Alguns debates são profundamente filosóficos: a importância de um suicídio racional de um ateu para demonstrar a inexistência de Deus, este, em paralelo, levanta questões éticas ao servir de aproveitamento para fins de guerrilha. Outros desenvolvimentos mostram o choque de consciência moral entre a pureza das ideias, os meios para as implantar e a manipulação despudorada de pessoas aderentes à causa para se alcançar o objetivo pessoal em detrimento do político e social. Um livro que em paralelo leva a refletir sobre a confusão que reina na Europa atual
6 comentários:
esse eu não li. quero ler. eu amei anna karenina. beijos, pedrita
Olá Carlos,
Mais um livro que apresentas e que tenho na estante, ainda a esperar por uma melhor oportunidade :)
Boas leituras
Por enquanto ainda é cedo para falar de Karennina, mas estou a gostar da escrita apresentada.
Denise
Pois não espere muito, eu pessoalmente gostei muito.
A propósito do seu comentário tão interessante sobre «Os Demónios» e da relação desta obra com o que se passa no mundo actual,lembro que Dostoiewski volta a ser muito estudado na Rússia,onde a sua obra chegou a estar proibida.
Há uma professora que faz parte da Academia das Ciências da Rússia,chamada Tatyana Saraskina,que estudou todos os aspectos da vida e da obra do escritor e que promove colóquios e conferências sobre ele no seu país e na Itália,aqui em colaboração com círculos intelectuais católicos.
Tatyana leu «clandestinamente» Dostoiewski quando era criança e através dele converteu-se ao cristianismo,numa altura em e o acesso à Bíblia era pràticamente impossível no seu país.
É um bom sinal que entre nós continue a haver leitores de Dostoievski que, não obstante alguns aspectos polémicos da sua obra, foi um escritor genial que profetizou com muitos anos de antecedência o apocalipse revolucionário de 1917.
Manuel Pracana Martins
A propósito da actualidade de «Os Demónios» a que Carlos Faria se refere no seu texto tão interessante,recordo a importância que está a ser dada a Dostoievski na Rússia,onde a sua obra chegou a estar proibida.
A Professora Tatyana Saraskina,da Academia das Ciências de Moscovo,tem tido um papel muito importante ao realizar conferências e colóquios sobre o escritor na Rússia e na Itália,neste último País em colaboração com círculos intelectuais católicos.
Parece-me interessante referir que aquela professora teve o primeiro contacto com a obra de Dostoievski quando tinha onze anos e que foi através de leituras quase clandestinas da sua obra que se converteu ao cristianismo ortodoxo.
É bom sinal que a obra deste escritor genial e profético,com conteúdo às vezes polémico, continue a interessar leitoras e leitores portuueses.
Muito obrigado pelos seus comentários Manuel Martins, sobretudo pelas informações prestadas. Não sabia da existência desses círculos de estudo e desse rejuvenescimento de interesse pela obra de Dostoievski, mas já tinha concluído que estava perante um colosso da literatura mundial, não apenas pela ficção mas também pelas questões e reflexões que provoca.
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