O romance "Anna Karénina" é muito mais que a mera narração da paixão avassaladora desta exemplar senhora de sociedade por Vronski e do seu adultério assumido: cuja relação egoísta evolui para a desilusão, rejeição social e acaba em tragédia; pois é também o relato paralelo da história contrastante do amor de início inseguro de Kontantin Levin por Kitty, que pelo altruismo prossegue num crescendo para a felicidade integração social e serve a Tolstoi de contrapeso moral.
Entre estes dois casos de igual importância no romance, há um conjunto de personagens, alguns constituindo casais, que unem os protagonistas e servem para: denunciar a hipocrisia da vida em sociedade; a desigualdade de tratamento na infidelidade do homem e da mulher na nobreza; as virtudes da maternidade num casamento; o possível aproveitamento dos valores cristãos para o desrespeito humano; a futilidade da vida urbana face à utilidade da atividade rural; os vícios de domínio das classes sociais mais poderosas face às dificuldades do povo; as questões filosóficas da existência de Deus, da crença contra a razão e dos valores éticos e morais e discute-se ainda as potencialidades e condicionantes do desenvolvimento económico e cultural da Rússia em comparação com as outras potências da Europa. O livro é um tratado profundo de muitos problemas e desonestidades que minam as relações humanas e um louvor ao amor altruísta e um crítica à paixão egoísta. Um grande romance que é uma obra-prima e muito maior que uma mera estória romântica.
Nesta edição há posfácio de Nabokov, este reabre o dilema de qual é o maior escritor: Tolstoi ou Dostoiévski; este russo não tem dúvida em colocar o autor de Anna Karénina por cima, eu pessoalmente, além de outros aspetos em que discordo do que ele escreve, mantenho que não consigo decidir quem é de facto o maior de entre estes dois grandes vultos da literatura russa.
9 comentários:
Carlos, estou consigo por também não consigo decidir quanto aos 2. Nabokov tem de facto uma opinião péssima no que respeita Dostoievsky.
Mas se pensarmos que Tolstoi tinha dinheiro e que Dostoievsky escrevia com prazos para poder comer, dá que pensar.
Há um livro muto bom, escrito pela sua mulher em que tudo isso é bem relatado.
E Tolstói sempre foi infinitamente muito melhor pago.
Bom domingo
Desconhecia essa questão financeira que limitava a liberdade artística de Dostoievsky. Efetivamente Nabokov neste posfácio não é nada meigo com o autor de Os irmão Karamazov e até me chocou o distanciamento que faz a este.
eu tb acho anna karenina muito político. esse livro é maravilhoso. beijos, pedrita
É político, mas também bastante filosófico na perspetiva religiosa.
Eu já prefiro Dostoievisk em um livro chamado noites brancas ele fala das contendas que tem com esses ''amigos '' que são o nabokov e outros dois que eu esqueci o nome e ele conta que vivia em um porao e por isso éra tratado com desprezo pelos seus amigos
Noites Brancas está no pacote das obras que gostaria de ler, mas que ainda não li.
carlos, terminei de ler o livro do joão tordo. comentei no seu post sobre o joão tordo. mencionei vc no blog.
Oi, Carlos!
Como você viu minha opinião, acho o livro incrível!Gostei demais de saber sua opinião.
Bem, fica até complicado escolher entre esses dois russos talentosos qual é o melhor. Mas, confesso que Tolstói anda me fazendo gostar ainda mais de suas obras.
Beijo.
Penso que para o leitor Tolstói é mais fácil de se ler, Dostoievski com as loucuras das suas personagens e encontros quase teatrais pode geral alguma confusão, mas Wilanni, este é um escritor cheio de mensagens subliminares.
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