"Nossa Senhora de Paris" de Victor Hugo que acabei de ler é acima de tudo um trabalho de divulgação sobre a arquitetura da catedral parisiense de Notre Dame e de informação sobre a história evolutiva do património arquitetónico desta cidade, desde a sua fundação até a situação contemporânea do livro em 1831, tendo como acessório intercalado um romance de amor ao estilo romântico, tipo a bela e o monstro e cercado por peripécias de ódios e paixões extremados, bem como a situação dos marginais que sempre viveram na capital de França e sobre os quais este escritor teve frequentemente uma atenção especial ao longo da sua carreira.
Não é por isto uma obra homogénea, ora nos dá profundas lições de história da arquitetura e do seu papel como livro aberto da cultura dos tempos até ao surgimento da imprensa, que substitui a arte de construção como principal forma de registar o saber das civilizações, ora nos dá informações do evoluir político da sociedade das teocráticas para a democrática libertada do jugo religioso, com pertinentes críticas mordazes das classes sociais e remata tudo isto com o enredo de amor do corcunda de Notre Dame, do ciúme do arcediago desta por uma suposta e bela cigana que desperta os ódios racistas, supersticiosos e das crendices típicas da idade média e de aventuras de outros apaixonados de fraco caráter para completar o retrato do modo de sobrevivência da época em Paris.
Pode-se não concordar plenamente com o papel dominante que Victor Hugo dá à arquitetura para compreender o passado, mas que este nos dá magníficas lições de história e de arte: dá; pode-se achar um pouco rocambolesco a trama de amor e das peripécias das suas personagens, mas que são úteis à informação e ao interesse da obra: são. Gostei do livro, embora não seja tão consistente quanto "Os Miseráveis".
4 comentários:
deve ser bem interessante, mas não sei se gostaria de ler. ah, o falador acho q tenho aqui e está na fila. quem sabe antecipo. beijos, pedrita
Para quem conhece Paris e Notre Dame a leitura torna-se bem mais interessante, mas mesmo assim penso que é um livro que se aprende muito.
Sobre O Falador espero que chegue o tempo de falar dele, pois estou no início.
Concordo com a tua apreciação.
"Magníficas lições de história da arte". É como dizes; trata-se mesmo de uma obra que fez ressuscitar o interesse dos próprios parisienses pela sua magnífica catedral que estava, na altura, em ruínas.
Visitei há tempos Paris e fiquei sem ar ao entrar naquele templo tão assustadoramente belo. E a primeira coisa de que me lembrei ao entrar lá foi do Corcunda do Victor Hugo. :)
Quando li o livro fiquei um pouco desencantado porque esperava uma coisa mais narrativa, mais ficcionada. Mas Hugo é mesmo assim; é um escritor que conjugava na perfeição ficção e história (ou realidade). Acho que só Tolstoi se assemelhou a ele neste aspeto.
Eu conheci primeiro Paris e a catedral do que a obra de Victor Hugo.
Interessante, por que já tinha tido o mesmo pensamento precisamente Tolstoi e Victor Hugo.
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