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quinta-feira, 22 de maio de 2014

"O Dia dos prodígios" de Lídia Jorge


"O Dia dos Prodígios" é o primeiro romance da grande série de obras escritas por Lídia Jorge, uma das autoras contemporâneas nacionais que maior número e diversidade de prémios literários de Portugal e do estrangeiro tem recebido.
Um romance publicado em 1980 que deve ter sido então uma pedrada no charco pela forma de escrita. A narrativa é constituída sobretudo pelo encadear de frases orais, por vezes articuladas, outras como que interrompidas por uma pontuação livre ou ainda com intercalação de afirmações, quase tudo brotando dos diálogos das personagens que convivem numa pequena aldeia isolada do interior do Algarve e onde se descreve, fala e se relata não só factos maravilhosos que ocorrem na terra que parecem pressagiar um grande evento, bem como se comenta a vida alheia. Por vezes a autora divide o texto em colunas, uma menor destinada a comentários e a outra à continuação do texto. Assim, aos poucos e de uma forma nem sempre linear, vai-se montando ao ritmo da pasmaceira do dia a dia o viver de uma pequena comunidade rural vítima da emigração e do esquecimento no final do Estado Novo... até que mais tarde se dá a Revolução do 25 de Abril e o nascer da esperança.
Para muitos o livro retrata de uma forma alegre e livre a mentalidade, os hábitos e os defeitos que caracterizavam o cidadão rural médio de então, o que nem sempre é abonatório: álcool, violência gratuita sobre animais e doméstica e alguma grosseria cruzam-se na montagem de um texto irónico e divertido que já foi adaptado ao teatro, mas é evidente que pertence a um período onde a ameaça da desilusão com libertação alcançada com Abril ainda não ensombrava a sociedade.
Lídia Jorge talvez seja das escritoras mais versáteis na escrita e este livro é bem diferente no estilo de outras obras posteriores de que gostei mais, embora talvez menos originais que é a grande marca desta obra aberta positivamente para o futuro.

1 comentário:

Pedrita disse...

não conhecia. anotado. beijos, pedrita