Nos últimos anos tornei norma identificar nesta data e neste blogue os livros que mais gostara de ler ao longo dos anteriores 12 meses, talvez seja pretensioso dizer que coincidem com os melhores lidos, pois nisto de qualidade há sempre uns critérios objetivos, mas também outros subjetivos e até alguns subversivos.
Tenho de assumir que a quantidade de obras lidas foi numerosa neste período e incluiu alguns dos títulos globalmente considerados mais importantes da história da literatura, o que torna a escolha desta vez bem mais complexa, contudo vou fazer um esforço de expor algumas das obras que ficaram no topo das que mais gostei de ler e considerei melhores segundo categorias distintas.
Melhor Livro de ficção nacional
Penso que a literatura contemporânea portuguesa está pujante e com qualidade, embora sofra de elogios promocionais a mais sobre quase tudo o que vai saindo, tornando difícil distinguir o bom trigo do joio valorizado para fins comerciais em benefício das editoras. Todavia, tendo em conta a sua riqueza interna e os 40 anos de liberdade que esta semana comemoramos, a escolha recaiu numa obra que mostra muito dos males da ditadura no passado e muitos dos problemas da terceira idade de hoje e ainda possui um estilo de escrita que embora influenciado não deixa de ter uma dose de originalidade:
Melhor Livro de ficção de expressão portuguesa
Face à categoria acima apresentada aqui excluo Portugal. O conjunto da literatura lusófona expõe as subtilezas que resultam da diversidade lexical, gramatical e sintática da nossa língua e até as influências geográficas e climáticas que se perdem em traduções (como tornar compreensível ao leitor noutra língua o pormenor da origem da obra em África, Brasil ou Portugal face à posição dos pronomes na frase ou a preferência por cacimba, sereno, rocio, orvalho ou relento ou mesmo a frequência do gerúndio da maioria dos lusofalantes face ao seu uso escasso no norte e centro de Portugal?). No uso da linguagem foi Ondjaki quem mais me surpreendeu com o linguajar de Luanda. Mia Couto cria palavras moçambicanas que chocam ao substituir termos usuais. No Brasil sobrevivem sinónimos arcaicos, alguns que ainda subsistem em nichos rurais e ilhas de Portugal e mostram-se outras regras de criar neologismos... tudo isto justifica a frase de Pessoa "A minha pátria é a língua Portuguesa"... mas a obra literariamente mais original e profunda que li ao longo deste ano, nem sempre fácil, mas que se destacou pela qualidade interna foi:
Melhor Livro de ficção de outra língua original
Procurei aqui não incluir romances já reconhecidos como grandes clássicos da literatura mundial, tendo em conta a última categoria deste artigo e por que tal tenderia a afastar outras grande obras menos famosas. A hesitação rondou "Nostromo" de J Conrad, "O Sino da Islândia" de Laxness, "O Carteiro de Pablo Neruda" de Skarmeta (sem dúvida o mais pequeno e ternurento), ou "A Guerra do Fim do Mundo" de Llosa em grande parte baseado em factos reais e o conjunto de "O Quarteto de Alexandria" de Durrell, mas a escolha foi para uma grande obra recente, por vezes incómoda e desagradável, que reflete muitos dos temores da sociedade atual, denuncia muitos dos seus vícios e está em parte relacionada com a minha vida profissional:
Melhor Livro de ficção canadiana
Esta é uma categoria que resulta do facto de ser cidadão e natural do Canada, confesso contudo que só li um livro deste País ao longo deste ano e pela primeira vez sem ser na língua original, só que também o mesmo corresponde a um título de contos da escritora que foi este ano galardoada com o prémio Nobel da Literatura e como tal não poderia deixar de fora esta oportunidade para mais uma vez homenagear a escritora de quem sou um grande admirador:
Melhor ficção de clássicos da literatura mundial
Aqui foi talvez o domínio mais complicado de seleção. Só considerei obras com mais de cem anos que recentemente foram reeditadas por serem tidas pelos críticos como grandes obras e continuarem a ser sucessos persistentes no tempo: "O Idiota" e "Os Irmãos Karamzov "de Dostoievsky a baterem-se com Guerra e Paz de Tolstói, romances mais pequenos como "O Monte dos Vendavais" de E Brontë, "História de duas cidades" de Dickens e mesmo originalmente em português por que não mencionar as deliciosas sátiras de "O Conde de Abranhos" e "O Mandarim" de Eça de Queiroz ou o "Dom Casmurro" de Assis, mas no fim penso que globalmente o clássico mais completo deste ano foi mesmo:
Nota: Os títulos "vencedores" estão sempre ligados ao endereço do artigo em que falei sobre a obra.
7 comentários:
impulsionado por vc eu comprei um livro do valter hugo mãe, mas ainda não li. bela relação. beijos, pedrita
Eu li dois dos seus indicados. Leon Tolstoi e o Jonathan Fronzen, que eu adorei "AS CORREÇÕES".
Mas eu nunca consigo gostar de um livro só de um autor.
Já agora qual foi Pedrita?... "Desumanização é o que está agora em lançamento em Portugal.
Deduzo que está a dizer que a norma é gostar de mais de um livro de um dado autor e não que só gosta de um livro escrito a várias mãos. Certo?
Sim Carlos Faria. Eu gosto do autor e não apenas de um único livro dele. Assim acontece com Gabriel Garcia Marquez, Ohran Pamuk, Saul Bellow, Philip Roth, Amos Oz, Milton Hatoum, Natsume Soseki, Kawabata, etc.. eu vou lendo e comprando os livros...também gosto de autores desconhecidos e de autores que partiram para o Nirvana...
Ondjaki é de Luanda, não Maputo. Eu sei, ando por cá ;) Abraço.
Eu sabia que era de Luanda, foi mesmo lapso de escrita no momento, talvez por a palavra estar a anteceder Mia Couto.
Mas se viste o artigo de 17 de novembro passado lá está bem claro que era o linguajar de Luanda:
http://geocrusoe.blogspot.pt/2013/11/quantas-madrugadas-tem-noite-ondjaki.html
Obrigado pela correção, estranho foi que até hoje mais ninguem tivesse dado por isso.
Carlos,
Claro que leio os comentários do meu blog (e deste também). Quanto à correcção deve ser mesmo fruto de estar aqui por Luanda, uma pessoa fica um pouco mais sensível. Quanto ao contacto, o blog está parado (espera por nova mudança na minha vida), mas continuo a receber os comentários. Abraço,
Sérgio.
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