Uma das coisas que me leva a considerar um romance como uma grande obra de literatura é se além de magnificamente escrito e um argumento bem sustentado, o mesmo me ensina a conhecer melhor o Mundo ou o Homem. Recentemente vi uma descrição da sociedade lusitana que mostra porque somos tão tolerantes com tantos vícios sociais à nossa volta e preconceituosos para com algumas classes que mexem no nosso património sem analisarmos as questões a fundo:
"A verdade é que entre o povo a noção de propriedade está por demais arraigada para que um ladrão, por mais heróico ou altruísta, não seja julgado como infame. Um assassino é tolerado, pode partilhar o pão dos seus vizinhos, pode fazer esquecer o seu crime. Um ladrão lega a toda a sua descendência um ferrete indelével, porque, se o homicida as mais das vezes obedece a uma paixão, um impulso resgatável e quase nunca repetido, o ladrão traz no sangue, e assim o comunica, o fogo da tentação que as circunstâncias, mais ou menos, ou velam ou expandem."
Agustina Bessa-Luís in "A Sibila"
Difícil... é verdade! Duro... sem dúvida! Mas uma interpretação e descrição perfeita para muito do que ouço e vejo. Quem escreve assim talvez nunca seja um romancista popular, mas será um erudito que explicará ao futuro muito daquilo que temos sido até ao presente e dificilmente sairá da história da literatura.
1 comentário:
é difícil lermos algo que nos serve de espelho. concordo com vc, ler é fascinante. beijos, pedrita
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