Morreu José Saramago, prémio Nobel da Literatura de 1998, um vulto da cultura lusófona conhecido em todo o mundo e um dos escritores portugueses que mais obras li, onde a discordância de ideias não afectava a paixão que nutria pelos seus livros.
José Saramago - Foto daqui
Após uma fase neo-realista crua a dura, José Saramago evoluiu para temas onde continuava a levantar questões sociais, de uma forma muitas vezes sarcástica, através de tramas onde descrevia com pormenor as relações humanas actuais em mundos que misturavam acontecimentos reais, fictícios e situações irreais não naturais, acompanhadas de uma escrita revolucionária e original, com parágrafos muitos extensos, ausência de vários sinais de pontuação e uso frequente de expressões comuns.
Imagem daquiTrês livros me marcaram: Memorial do Convento, Ensaio sobre a Cegueira, e A Jangada de Pedra. Na sua produção mais recente, tinha a sensação de continuar a ler capítulos diferentes de um mesmo livro o que me fez reduzir o interesse por novas obras.
José Saramago com O Ensaio sobre a Cegueira em Persa (Imagem daqui)Polémico pela forma como criticava a sociedade e a religião nos seus livros, bem como Portugal no seu discurso, abandona em protesto o País e vai viver para Lanzarote, se percebo a amargura, discordo do método que mais não é do que uma desistência de agir dentro da sua terra.
Um pormenor, vivi em proximidade física com este escritor no meu tempo de universitário. José Saramago era meu vizinho e com frequência nos cruzávamos na mercearia ou no café. Nunca tivémos diálogos maiores dos que têm dois cidadãos que educadamente partilham o mesmos espaços. Não lhe falava dos seu livros, nem de nenhum dos seus temas políticos... apenas banalidades. Até um dia vizinho... tenho muitos livros escritos por ti e talvez ainda venha a ter mais.
19 comentários:
Fiquei muito chocada com a morte do Saramago.
Nunca fui grande admiradora dele; mas sempre foi ele o único português, que conseguiu um Prémio Nobel de Literatura, o nosso outro Nobel foi de Medicina.
Saudações da minha cidade!
Hoje, so me vem à memória a última conversa que tive com ele.
eu partucularmente não gosto do antisemitismo dele....
Há várias coisas que discordava dele, essa é uma delas, mas a sua obra era um rol de denúncias directas e inderectas mais abrangentes que as diferenças de ideias que nos distanciavam.
eu fiquei muito triste hj qd li a notícia. é alguém q achava q ia viver igual e pra sempre. memorial do convento tb me marcou muito. amo ainda ensaio sobre a cegueira que me revirou por dentro e manual de pintura. mas seus livros são sempre diferentes e impactantes. beijos, pedrita
Um escritor fantástico e um ateu militante, polémico por natureza e politicamente incorrecto.
Também li o memorial do convento e o ensaio sobre a cegueira, infelizmente apenas esses dois (tenho o evangelho segundo jesus cristo e a jangada de pedra em lista de espera).
Portugal ficou mais pobre.
@ Ematejoca
O meu gosto pela obra de Saramago é essencialmente de antes do Nobel, onde cada obra era uma descoberta, depois penso que começou a repetir-se parecendo capítulos diferentes do mesmo livro.
@ Carlos Barbosa
A mim vêm-me à memória os livros que mais me marcaram e aquela personalidade que encontrava na rua.
@Pedrita
Pelo menos são bem diferentes as obras que escreveu no século XX, mas não deixa de ser uma grande perda para a cultura lusófona.
@RJ
As convicções pessoais dele marcaram a sua obra, mas sempre distingo a ideias do autor do valor dos seus livros.
Saramago foi polémico, é verdade, mas quem não é conformista, tende a ser polémico e se é uma personalidade pública, o eco do desconforto torna-se bem maior.
Li-o desalmadamente antes de ser conhecido.
Ninguém o abordava na sessão de autógrafos numa feira do livro, em Lisboa. Falei-lhe, por ser pai da Violante, que andou comigo na Faculdade. Disse-lhe que admirava o seu humor e ele emendou: IRONIA. Isto foi há muitos, muitos anos...
Poucos homens tiveram ousadia e lucidez para pôr em causa o "status quo" intelectual, espiritual, filosófico e sócio-político. Este era um homem com uma serena inquietação, um aprendiz de deus (reparem que escrevo deus com letra pequena. Nada tem a ver com o nosso Deus!!! Atenção, eu não estou a brincar com a fé e crença das gentes como eu!!!). Era um homem intrínseca e infinitamente profundo. Ele conseguia engendrar novas visões de temas serôdios ou já gastos. Ele nunca teve intenção de gozar com as coisas, simplesmente inventava novos olhares profundíssimos sobre essas coisas. É preciso ser-se liberto de preconceitos ou mesmo conceitos, para vislumbrar a grande capacidade que Saramago tinha de revirar tudo e de... dar de novo. Inquietava, sem dúvida. Fazia-nos pensar.
Agora descansa? Não sei. Aquela mente dissipar-se-á inexoravelmente...
Descobri Saramago muito antes dele ter ganho o Nobel e nunca partilhei a sua visão ideológica, nem as suas convicções políticas ou religiosas. Mas não foi por isso que deixei de amar o escritor, com todos os defeitos e qualidades que ele tinha. A sua morte deixou-me triste. Não tenho dúvidas de que o seu dessassossego permanente vai fazer falta ao País. Tenhamos ou não consciência disso...
@ Mar de Bem
Eu li-o, sobretudo, antes de ser prémio Nobel, quando era mais criticado pela suas ideias e estilo de escrita do que elogiado pela qualidade da suas obras.
@ A ilha dentro de mim
Infelizmente, pelo que vejo na televisão ao longo destes últimos dias, muitos hoje elogiam-no mas por conveniência política do que conhecerem ou admirarem a sua obra. Claro que o elogio fúnebre é uma forma de suavisar a consciência perante o desassossego que Saramago provocava... mas a sua obra continua viva e a questionar esta sociedade.
O desassossego como diz é o que mais gostava na obra dele. E apesar da discordância no remédio e nas causas até concordava no essencial do diagnóstico do mal ... Quanto à obra curiosamente prefero a menos conhecida poesia ...
@Fernando Vasconcelos
Poesia... aí está a parte da obra que dele mal conheço, indirectamente o seu comentário é uma chamada de atenção para esse lado menos conhecido de Saramago
O meu tempo no Porto é repartido entre a praia e o futebol.
A minha familiar alemã já tem medo de abrir a TV e que lhe apareça o Saramago, e ela que queria ver o casamento da princesa Victória da Suécia!!!
Como ela é a minha convidada, faço tudo aquilo que ela gosta, e por isso não consegui visitar a Feira do Livro, só a vi de longe. Também não quer festejar o São João, mas desta vez, vou contrariar.
Saudação de um Porto muito quente!
@ Tal como dizia Thomas Mann através os alemães lá em baixo são muito fleumáticos ;) leve-a ao São João para ela descobrir um Vale Mágico
A minha homenagem ao escritor que, como português, conquistou o prémio Nobel da Literatura.
A minha tristeza ao homem que abandonou a sua Pátria por não ter condições de lá viver e, afirmava com convicção que Portugal deveria ser uma província espanhola.
Na vida, os "dotados", também teem momentos menos esclarecidos
Que descanse em Paz.
Pois não gostava do homem e da maior parte do seu material escrito (abro três excepções - a sua poesia e os os livros Viagem a Portugal, de 1981, e de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de 1984).
As únicas coisa que apreciava no autor era sua frontalidade e o facto de ter trazido o Nobel para a nossa língua...
@ Fernando
Apesar de já ter lido mais de uma dezena dos seus livros, desconheço a sua poesia.
Os meus livros preferidos foram os que citei no post. Conhecia-o pessoalmente por ter sido meu vizinho em Lisboa quando ainda não era tão famoso como veio a ser uns anos depois.
Pessoalmente, recomendo "O ano da morte de Ricardo Reis", o "Levantado do Chão" e "A viagem do elefante" (além dos outros de que falas). Eu adoro a escrita do Saramago. Dá-me um prazer que poucos autores alguma vez deram. Já li quase tudo. Neste momento, estou a ler "A Caverna" e estou igualmente deliciado.
Gostei imenso do "Ano da Morte de Ricardo Reis", já o mesmo não se passou com o "Levantado do Chão", um neorrealismo intenso e esgotante e Saramago ainda não se havia encontrado bem com a sua nova escrita.
A Caverna é a alegoria de Platão descrita de um modo interessante e a Viagem de Elefante parece-me um relato pobre de um evento real, sem acrescentar nada de novo às suas anteriores obras.
Mas gostos são assim mesmo, cada um tem as suas preferências.
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