Raramente uma arriba é constituída apenas por um único tipo de material, consolidado rígido ou brando, normalmente estas intercalam rochas com características diferentes, inclusive, as escoadas basálticas apresentam, frequentemente, um topo e uma base desagregada, denominada clinker, assim quando estas se sobrepõem, na arriba alternam camadas coesas com soltas.
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Escoada típica de lava escoriácia, pouco espessa com uma zona central consolidada mas com o topo e a base constituidos de material desagregado (clinker)
Esta variabilidade faz com que o mar comece a erodir os materiais desigualmente, em função do grau de resistência destes, erosão diferencial, originando, por vezes, grutas litorais - algumas de grande beleza -, mas responsáveis por recuos bruscos da arriba, devido à possibilidade de colapso dos respectivos tectos. Esta situação pode colocar casas litorais sob ameaça de destruição e aconselha a que se planeie convenientemente as zonas de construção urbana junto à costa, de modo a se evitarem zonas de risco.
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Esta diversidade de materiais é responsável, além das grutas, pela criação de arcos, enseadas (onde saltamos para o mar), poças (que transformamos em piscinas naturais) e uma grande geodiversidade de aspectos que dão grande beleza do nosso litoral.
A evolução natural duma arriba com sobreposição de materiais diferentes, grandes desnível e inclinações...
Mas, mais lenta ou rapidamente, em função das proporções de materiais brandos ou consolidados e da intensidade dos agentes erosivos externos, o mar vence sempre a longo-prazo, o recuo progressivo do litoral é um facto. Assim, as ilhas vulcânicas com o tempo, além de ficarem mais baixas, também se tornam mais pequenas e todos os post desta série se encaminham para a desfecho final desta luta, que para o caso dos Açores mostrará uma hipótese que corresponde a uma surpresa para alguns.
7 comentários:
AS pessoas querem que as coisas sejam assim... basta ir á ponta furada e ver que lá tem uma casa (já muito destruída) isso demonstra muita irresponsabilidade da pessoa que lá construiu a casa, infelizmente as coisas não mudaram... pelo menos de forma visível na mentalidade das pessoas...
ao grifo
no passado não muito longínquo julgava-se que o mundo à nossa volta era praticamente imutável. poderia surgir um vulcão, um sismo, um temporal e uma inundação, mas no geral pouco mudava, só mais recentemente é que se começou a estudar e a informar publicamente que a natureza muda. há o recuo da costa, alteração dos leitos dos rios, a formação das montanhas e a sua destruição e mais rápida ou lentamente o mundo é mesmo composto de mudança, por isso não podemos julgar os mais antigos. hoje com mais informação fazem-se erros graves e dpois com o dinheiro tenta-se emendar da pior forma o erro efectuado.
Com esta luta pela sobrevivência, podemos nós bem...lol
Quanto à outra, e ao uso desse teclado com o qual nos presenteias com estas curiosidades geológicas, não esperava outra coisa de ti, caro amigo, espero ansiosamente por tal artigo(ART vs Triângulo), cada vez mais a critica está reduzida a alguns,e a maioria que escreve nos jornais desta terra, devia era estar calado, não é o teu caso felizmente.
Pois se não surgir outro tema e não houver um assunto que me abafe, será sobre aquela triste frase a minha próxima crónica quinzenal no diário local, mas só depois de iniciar o documento é que sei exactamente do que falarei.
Sobre esta luta pela sobrevivência das ilhas, alertei para outros riscos e julgo que haverá curiosidades no próximo post, vamos a ver se gostam...
à acção do mar contrapõe-se a dos vulcões, que ocasionalmente vão repondo o que aquele leva.
Esta triste realidade dos recuos da linha de costa é frequente ao longo do país. Apesar da desagregação de muitos taludes de costa já em si algo "fraquinhos" geotecnicamente muita autarquia permite a construção em massa nas imediações de falésias em risco, tal como acontece na costa algarvia, por exemplo.
A diferença de consolidação ou de cimentação entre camadas é um dos factores mais importantes a considerar num estudo geológico-geotécnico de um talude ou arriba. Associado a outros factores (presença de água, inclinação das camandas, diaclasamento e fracturação, etc...) pode-se estimar o grau de probabilidade da ocorrência de instabilidade e, consequentemente, de acidentes.
Mesmo que o material não aparente estar desagregado, com a inclinação certa, uma camada argilosa (ou uma marga) intercalada entre outras mais duras se apanha água por qualquer motivo fica tipo manteiga e torna todo o talude como potencialmente instável. É caso para dizer que se comporta como uma tosta mista onde o queijo está derretido...
ao maugastamanhas
Claro que isso por vezes acontece e está referido no post II desta série onde refiro:
"Assim, as ilhas crescerão sempre que a actividade eruptiva for do tipo construtivo e emitir, de uma forma mais ou menos calma, lava ou piroclastos em maior quantidade do que aqueles materiais que estão a ser destruídos pelos Agentes de Geodinâmica Externa"
Infelizmente os próprios vulcões também podem ser destrutivos e mesmo quando constroem, cobrem campos anteriores, pelo que a melhor solução é não construir em litorais instáveis e demasiado próximo das arribas.
ao RJ
concordo plenamente com tudo o que dissestes, não fui tão profundo, limitei-me aproveitar esta sub-série de post para alertar do risco do recuo das arribas, para consciencializar as pessoas a não construírem demasiado próximo destas, pois cedo ou tarde a arriba e o mar vão-lhes bater à porta.
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