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terça-feira, 9 de março de 2010

PRAIA DA VITÓRIA e a ameaça da Falha das Lajes

Observando a pacatez da Praia da Vitória, qualquer geólogo atento sente que se está perante uma calma ameaçada por forças titânicas. Estas podem acordar um dia e transformar os belos imóveis em castelos de cartas que desabam sobre si mesmo semeam dor.
Eis um relato sobre o sismo de 24 de Maio de 1614.
... No direito desta igreja (Lages) contra o mar está hua serra que se chama Ioão de Teve que ocorre deste direito de a Vila da Praja, e será de comprido mais de meja legua em direito da igreja. Pello pee desta serra se abrio hua rotura na terra que fez grande espanto; esta dita rotura comessou desde hua ponta e foi correndo continuando como hum quarto de legua, e dahi atravessou ao mar e a parte da dita serra que fica à banda da terra dizem que ficou mais baixa do que a do mar (Maldonado, 1711 in Madeira 1998, tese de doutoramento).


A Praia da Vitória voltou a ser atingida por um terramoto com epicentro na zona em 15 de Junho de 1841.
No passado fiz uma série de oito textos sob o lema do "Faial cortado à faca", devido às cicatrizes das falhas geológicas ali descritas terem uma perfeição morfológica tal que parecia que as lombas (serras) da ilha tinham sido cortadas por acção humana. Quem olha para o norte da Praia da Vitória depara-se com o mesmo cenário de minha casa, em resultado da Falha das Lajes.

Tal como as falhas do Faial daquela série, também esta corresponde a uma falha normal, embora com uma direcção mais Noroeste-Sudeste, e, igualmente como naquela ilha, também na Terceira a falha mais a norte inclina para o quadrante mais exposto a sul, enquanto a vertente norte da lomba é muito mais suave. Também o grau de "perfeição do corte", escarpa de falha, é do mesmo nível dos que se observam no Faial cortado à faca.

Tudo isto são sinais que se está perante um acidente tectónico com actividade recente de tal forma que a erosão ainda não disfarçou os movimentos relativos dos dois blocos da falha, neste caso, o bloco norte sobe em relação ao sul ou o sul desce perante o do norte (tal como é evidente nas imagens e Maldonado descreveu sem qualquer conhecimento de tectónica de placas).
Mas esta falha não está só na zona outras existem, sobretudo duas são muito evidentes e formam uma estrutura tectónica muito conhecida mas isso fica para próximo post.

8 comentários:

  1. Aqui está um post que não me deixou dormir tranquilo a noite passada.

    Estou no gozo. :)

    É bom estarmos conscientes dos riscos naturais dos locais onde habitamos.

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  2. @mb
    pois então preparara-te para mais 2 noites sem dormir... só não sei se seguidas se alternadas, qualquer forma mais curtinhos.

    Já estava com saudades de falar de geologia e riscos, pois pelo Faial quase esgotei o tema

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  3. @geocrusoe

    Mais duas?! Bom, que venham aqueles que deduzo serem os dois posts. Mas alternados por favor, porque duas noites seguidas em claro é dose. :)

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  4. Combinado, já agendei um post relaxante...

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  5. Está muito este post!

    Já agora, o link para o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores mudou: http://www.ovga-azores.eu/

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  6. @Fernando Martins
    Obrigado, já actualizei o link do OVGA

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  7. O meu professor de hidrogeologia na UA-Angra chama esta falha, falha de Santiago. Refere outra que se forma junto a esta junto ao Paúl da Praia, chamada falha da Estrada 25 de Abril.

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  8. ao anónimo
    Tal como no Faial, professores e escolas diferentes usam toponímias diferentes. Ex: Falha do Flamengos = Falha da Cruz do Bravo, mas há mais.
    A Falha de Santiago = a Falha das Lajes. Eu usei a terminologia do Professor José Madeira da Universidade de Lisboa que cito no post, de quem sou amigo, fui aluno e acompanhei os trabalhos de campo.
    Existe efectivamente a outra falha, mas a expressão morfológica é diminuta e como não tinha foto mostrei apenas as mais evidentes, tal como fizera para o Faial.
    Já agora, não é obrigatório, mas é mais agradável responder a pessoas com nome.

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