"Uma vez iniciado o inexplicável, o tormento da auto-análise nunca mais acaba."
Há bons livros cuja leitura nos faz sofrer, a que resistimos em entrar neles e "Pastoral Americana" de Philip Roth, que com esta obra ganhou um prémio Pulitzer, é um romance que em mim teve esse efeito, aliás, este escritor tem-me provocado luta, se "O Complexo de Portnoy" não consegui concluir a leitura, reconciliei-me com ele através de "A Mancha", agora valeu a pena, mas foi difícil.
Na escola, Seymour Levov, filho de um judeu luveiro tradicionalista, é um jovem alto, louro e um herói do desporto escolar, é um exemplo de sucesso e conhecido por "o sueco". Zuckerman era então um aluno com menos idade, amigo do irmão mais novo dele e um fã, ao crescer torna-se num escritor famoso (alter ego?) e perto dos seus 60 anos encontra casualmente o sueco e este depois agenda um jantar para falar da importância e força do pai, só que foi um fiasco, só fala do orgulho que tem nos filhos do segundo casamento. Mais tarde, num jantar de antigos-alunos, quase todos com achaques e a lembrar os seus males e desilusões (muita da dificuldade de leitura ronda este evento), o narrador reencontra o irmão do sueco, veio ao funeral deste e descobre quanto foi frágil e infeliz foi a vida de Seymour que se sujeitara a agradar ao pai e ao mundo à sua volta, querendo ser um exemplo do sonho americano e enquanto o mundo se revoltava com a guerra do Vietname e mudava, ele amarrava-se a ideias ultrapassadas sem quebrar as barreiras que os preconceitos sociais lhe impunha, até ao choque que a sua filha lhe deu com o seu temperamento de adolescente rebelde e quando descobre quão falsa era a sociedade americana que o cercava, desilusão que é um apelo à superação que o narrador transforma em livro das desventuras do seu ex-herói destroçado por aquela América cheia de vícios, contradições e preconceitos e assim monta esta pastoral americana que mais não é que um retrato duro da história deste país em mais de meio século XX.
O texto cruza memórias do passado das personagens, relatos do antigamente da geração mais idosa e eventos e reflexões da década de 1990 face à história, montando uma análise crítica da sociedade e fazendo uma psicanálise dos anseios e desilusões das personagens. Assim, Roth monta um puzzle e faz um retrato de um derrotado e das forças americanas em presença.