LÍNGUA MATER DOLOROSA
Tu que foste do Lácio a flor do pinho
dos trovadores a leda a bem-talhada
de oito séculos a cal o pão e o vinho
de Luiz Vaz a chama joalhada
tu o casulo o vaso o ventre o ninho
e que sôbolos rios pendurada
foste a harpa lunar do peregrino
tu que depois de ti não há mais nada,
eis-te bobo da corja coribântica:
a canalha apedreja-te a semântica
e os teus verbos feridos vão de maca.
Já na glote és cascalho és malho és míngua,
de brisa barco e bronze foste a língua;
língua serás ainda... mas de vaca.
Publicado no Jornal Novo, Dezembro de 1976, extraído de "Poesia Completa" de Natália Correia, Publicações Dom Quixote, 1999 (634 p.)
Livro disponível e à venda nas Bibliotecas Públicas da DRaC nos Açores.
Cá estou outra vez. Desta vez por causa da Natália Correia, que é uma das minhas poetisas preferidas.
ResponderEliminarEm cima da minha secretária, aqui ao meu lado esquerdo, tenho "O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II". É que ando há dias para postar no "ematejoca azul" o poema dela "Advento", mas aparecem sempre outras coisas que acho mais actuais.
A imagem é gira e gira mesmo. Que trocadilho, meu Deus!
Saudacoes natalícias!
à ematejoca
ResponderEliminarnatália foi uma perita no domínio das palavras lusas, na combinação entre o verso, o saber erudito e o esgrimir da poesia contra muitos dos vícios da sociedade... uma fígura ímpar nas letras portuguesas, embora por vezes de difícil digestão. mas gosto muito da sua arte.
a imagem, o seu significado e o poema foram articulados propositadamente para intensificar a importância da língua portuguesa e do seu domínio dentro e fora de portugal.
bem bacana. beijos, pedrita
ResponderEliminarà pedrita
ResponderEliminarpor acaso o primeiro verso faz a ligação a um grande poeta brasileiro que escreveu também sobre a lusa língua... está lembrar-se qual o soneto e o poeta?