"Na realidade, tudo aquilo que se conta, tudo aquilo a que não se assiste, é apenas rumor, por muito que venha envolvido em juramentos de pura verdade."
"... quando se renuncia a saber aquilo que não se pode saber... talvez então assim comece o mal, mas em contrapartida, o pior fica para trás."
" O perdão não aguenta tanto como a vingança."
Regressei ao meu escritor sensação e fetiche dos último ano e meio, nunca um escritor me levou a acompanhar a sua obra tão intensamente como o espanhol Javier Marías, agora chegou a vez de um dos seus romances publicados há quase uma década "Assim começa o mal".
O jovem Juan de Vere é contratado pelo realizador de cinema Eduardo Muriel para seu secretário particular, logo de início descobre o mau relacionamento deste com a mulher Beatriz e entra em contacto com o círculo de amigos do empregador. Muriel incube o seu secretário de descobrir a veracidade de um boato sobre um dos seus amigos mais próximos de quem ouviu ter um passado desonrado relacionado com a atitude do mesmo com mulheres. O jovem não só descobre aproveitamentos relacionados com o seu poder de influência perante o regime ditatorial de Franco, como promiscuidades recentes, enquanto em paralelo verifica uma vida secreta de Beatriz e a infelicidade desta, como ainda desenvolve uma paixão juvenil pela mesma. A investigação leva ao perceber uma teia complexa de relacionamentos humanos com vingança sob o regime político subalternizava as mulheres, mentiras e abusos de poder imorais que logicamente apontam para tragédia e infelicidade.
Como sempre é a escrita o elemento que mais me cativa em Javier Marías, um narrador onde as suas histórias se desenrolam a uma velocidade lentíssima, quase paradas e travadas por uma engrenagem de reflexões sobre comportamento humano, pormenores linguísticos e tratamento de sinónimos que travam o evoluir da narrativa mas criam textos extensos riquíssimos, no caso presente também na denúncia do que foi a vida sob a ditadura e o pacto social para criar uma paz podre cheia de segredos e de reescritas do passado de muitos que permitisse a democracia se instalar até ao início dos anos de 1980 sem a vingança destruir o novo regime.
Gostei do romance, não é o meu favorito do autor, mas também não me desiludiu e como sempre a sua escrita deixou cativado na apreciação do texto, mas não é uma obra fácil e de leitura rápida.
não li nada dele. beijos, pedrita
ResponderEliminarGosto de todos, uns mais do que outros, para entrada entre os que li "amanhã na batalha pensa em mim" não foi o que mais me marcou, mas é muito bom
ResponderEliminarCarlos, escreve lindamente! Abraço transatlântico e boa semana!
ResponderEliminarAlém das reflexões psicológicas que vai lançando e com os quais me leva a ver o mundo e as pessoas com olhos que evoluem e outros ângulos de percepção, é a escrita dele que mais me encanta
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