Excerto
"Há coisas tão imperdoáveis que tornam outras facilmente perdoáveis."
Acabei de ler "Meio Sol Amarelo" da nigeriana de etnia igbo Chimamanda Ngozi Adichie, vencedor do Pulitzer Prize. Este é o terceiro romance de ficção dela que leio, ela que também é autora de ensaios sobre o feminismo, mas os romances não se centram nesta temática.
No início da década de 1960 Ugwu é uma criança de 13 anos que a tia leva para cidade para ser o criado da casa do professor universitário Odenigbo, ele será o narrador central à sua volta. Na morada reúne-se gente com esperança no futuro glorioso de África. O dono tem uma relação amorosa com Olanna, filha de um dos homens mais ricos do País e habituado à corrupção para singrar nos negócios, via que a filha rejeita. Esta tem uma irmã gémea, Kainene, que dirige empresas do pai e desenvolve uma relação com um jornalista inglês encantado com a cultura local. Todos vivem tempos de fartura e esperança no Estado recém-independente. Este grupo, culto e rico, é da etnia igbo, maioritariamente cristã ou animista que vive no sudeste do país e é o que mais progride politica e economicamente na Nigéria, mas a rivalidade de outras tribos leva ao seu massacre no norte muçulmano. Então as províncias onde eles se concentram declaram-se independentes sob o nome de Biafra, o que levará a uma guerra civil com grande mortandade dos civis pela fome devido ao bloqueio alimentar com o conluio das grande potências mundiais e pelos bombardeamentos federais. É o o período de luta pela sobrevivência em que a esperança dá lugar ao medo e à necessidade de decisões extremas e os problemas do passado terão de ser ultrapassados pelo amor e altruísmo, face aos ódios, oportunismos e morte no Biafra.
O livro está dividido em quatro partes: na primeira, início da década, ficamos a conhecer o estilo de vida desta gente pelos olhos de Ugwu; na segunda, já no início da guerra, é evidente terem existido problemas nos casais por ciúmes, traições e choque cultural; a terceira vai ao revelar as situações problemática nestas famílias; e na última, a mais extensa, acompanhamos o agudizar da crise humanitária até à derrota do Biafra onde todas as anteriores tensões são secundárias face ao que se vive durante a guerra. Contudo, quase não há relatos de combates, a obra centra-se na dificuldade das pessoas civis e não na frente.
A escrita é escorreita, sem grandes rasgos estilísticos, bem temperada pelos sentimentos humanos e vida íntima, o que torna a obra fácil de se ler, pois toca o coração do leitor. No conjunto aprende-se o que foi a vida no Biafra durante a guerra vista do lado de quem, cheio de esperança, lutou pelo que acreditava e viu-se derrotado. Uma lição de história romanceada, eu que nem sabia onde era o Biafra fiquei a saber muito do que foram as feridas abertas pelo colonialismo, descolonização e guerra-fria em África.
Portugal, nunca é referido diretamente na obra, mas esteve do lado do Biafra e um corredor humanitário existente no romance fazia abastecimento alimentar com grande risco via São Tomé, então colónia portuguesa, mostrando a posição lusa. Gostei sobretudo pelo que aprendi numa boa narrativa onde o humanismo nunca desaparece mesmo no meio das atrocidade que vamos assistindo.
quero muito ler esse, eu li dela hibisco roxo e gostei muito. beijos, pedrita
ResponderEliminarOi Carlos! Outra autora que nunca li mais tenho vontade.
ResponderEliminarGostei dos comentários. Abs.
Pedrita
ResponderEliminarHibisco roxo é mais sobre a pressão religiosa do pai na liberdade da filha, é o mais autobiográfico dos 3 que li.
Kelly
Americanah é literariamente mais maduro e estilisticamente mostra vários preconceitos raciais na comunidade branca e africana estadunidense e dentro da Nigéria descreve uma realidade atual. Este que agora li é um relato histórico de uma guerra genocida vista do lado das vítimas, são ambos muito bons.
Bom dia tudo bem? Sou brasileiro e procuro novos seguidores para o meu blog. E seguirei o seu com prazer. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância.
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