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sábado, 8 de agosto de 2020

"Meio Sol Amarelo" de Chimamanda Ngozi Adichie

Excerto
"Há coisas tão imperdoáveis que tornam outras facilmente perdoáveis."

Acabei de ler "Meio Sol Amarelo" da nigeriana de etnia igbo Chimamanda Ngozi Adichie, vencedor do Pulitzer Prize. Este é o terceiro romance de ficção dela que leio, ela que também é autora de ensaios sobre o feminismo, mas os romances não se centram nesta temática.
No início da década de 1960 Ugwu é uma criança de 13 anos que a tia leva para cidade para ser o criado da casa do professor universitário Odenigbo, ele será o narrador central à sua volta. Na morada reúne-se gente com esperança no futuro glorioso de África. O dono tem uma relação amorosa com Olanna, filha de um dos homens mais ricos do País e habituado à corrupção para singrar nos negócios, via que a filha rejeita. Esta tem uma irmã gémea, Kainene, que dirige empresas do pai e desenvolve uma relação com um jornalista inglês encantado com a cultura local. Todos vivem tempos de fartura e esperança no Estado recém-independente. Este grupo, culto e rico, é da etnia igbo, maioritariamente cristã ou animista que vive no sudeste do país e é o que mais progride politica e economicamente na Nigéria, mas a rivalidade de outras tribos leva ao seu massacre no norte muçulmano. Então as províncias onde eles se concentram declaram-se independentes sob o nome de Biafra, o que levará a uma guerra civil com grande mortandade dos civis pela fome devido ao bloqueio alimentar com o conluio das grande potências mundiais e pelos bombardeamentos federais. É o o período de luta pela sobrevivência em que a esperança dá lugar ao medo e à necessidade de decisões extremas e os problemas do passado terão de ser ultrapassados pelo amor e altruísmo, face aos ódios, oportunismos e morte no Biafra.
O livro está dividido em quatro partes: na primeira, início da década, ficamos a conhecer o estilo de vida desta gente pelos olhos de Ugwu; na segunda, já no início da guerra, é evidente terem existido problemas nos casais por ciúmes, traições e choque cultural; a terceira vai ao revelar as situações problemática nestas famílias; e na última, a mais extensa, acompanhamos o agudizar da crise humanitária até à derrota do Biafra onde todas as anteriores tensões são secundárias face ao que se vive durante a guerra. Contudo, quase não há relatos de combates, a obra centra-se na dificuldade das pessoas civis e não na frente.
A escrita é escorreita, sem grandes rasgos estilísticos, bem temperada pelos sentimentos humanos e vida íntima, o que torna a obra fácil de se ler, pois toca o coração do leitor. No conjunto aprende-se o que foi a vida no Biafra durante a guerra vista do lado de quem, cheio de esperança, lutou pelo que acreditava e viu-se derrotado. Uma lição de história romanceada, eu que nem sabia onde era o Biafra fiquei a saber muito do que foram as feridas abertas pelo colonialismo, descolonização e guerra-fria em África.
Portugal, nunca é referido diretamente na obra, mas esteve do lado do Biafra e um corredor humanitário existente no romance fazia abastecimento alimentar com grande risco via São Tomé, então colónia portuguesa, mostrando a posição lusa. Gostei sobretudo pelo que aprendi numa boa narrativa onde o humanismo nunca desaparece mesmo no meio das atrocidade que vamos assistindo.

4 comentários:

  1. quero muito ler esse, eu li dela hibisco roxo e gostei muito. beijos, pedrita

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  2. Oi Carlos! Outra autora que nunca li mais tenho vontade.

    Gostei dos comentários. Abs.

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  3. Pedrita
    Hibisco roxo é mais sobre a pressão religiosa do pai na liberdade da filha, é o mais autobiográfico dos 3 que li.

    Kelly
    Americanah é literariamente mais maduro e estilisticamente mostra vários preconceitos raciais na comunidade branca e africana estadunidense e dentro da Nigéria descreve uma realidade atual. Este que agora li é um relato histórico de uma guerra genocida vista do lado das vítimas, são ambos muito bons.

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  4. Bom dia tudo bem? Sou brasileiro e procuro novos seguidores para o meu blog. E seguirei o seu com prazer. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância.

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