Acabei de ler "A vegetariana" da escritora sul coreana Han Kang, romance vencedor do Man Booker Internacional Prize de 2016 onde na lista final também se encontrava o livro de expressão original portuguesa "Teoria Geral do Esquecimento" de J E Agualusa aqui abordado.
Estamos perante um romance que narra três episódios em torno de Yeong-hye, uma mulher sem nada de excecional que leva a sua pacata vida de casada numa normalidade obscura que de repente decide rejeitar comer qualquer alimento de origem animal, impondo tal disciplina em casa e encontra uma grande oposição de toda a sua família.
No primeiro relato, esta mudança de comportamento é vista pelo lado do marido que pede auxílio aos parentes da esposa para enfrentar a situação. O segundo relato decorre após o termo do primeiro e conta na primeira pessoa a atração e relação desencadeada no cunhado, artista que pinta flores em corpos nus com cobertura video desse trabalho, para com a figura central do livro, desenvolvendo-se então uma história em simultâneo erótica, sexual, imoral e também inocente. A terceira parte é a exposição da irmã que tenta salvar recém-convertida ao vegetarianismo, aquela analisa o que foi a vida desta, as atitudes de sobrevivência de ambas, o choque do comportamento do marido e a opção pelo tratamento psiquiátrico de Yeong-hye, com todas as consequências que daí resultarão face a uma mudança cada vez mais radical desta de unir-se ao mundo vegetal.
Não conheço a língua coreana para analisar como terá sido a escrita original de Han Kang, o romance resulta da tradução a partir da versão inglesa e em português transformou-se num texto claro, com frases elegantes e com um recurso escasso a floreados, apesar das flores serem muito importantes na obra. O início da obra é literariamente deslumbrante, depois perde alguma beleza face a uma violência psicológica e física que me surpreendeu, depois na segunda parte há uma conciliação entre beleza de escrita, erotismo, imoralidade e crueldade, sem o texto perder o seu carácter de obra de arte não pornográfica.
A terceira parte é uma narrativa deprimente de onde resultam mais questões do que ideias da escritora. Quais os limites das opções individuais sobre o uso do seu corpo e das atitudes de cada um? Pode um percurso imoral e de rejeição social ser o caminho para a salvação de alguém? Teremos o direito de comprometer o futuro de uma pessoa em nome dessa ética perante atitudes que não prejudicam terceiros? Gostei do romance, embora não seja uma obra que me tenha marcado especialmente, pois apenas levanta questões sem deixar mensagens claras. A opção do júri para dar a vitória a esta obra em detrimento da de Agualusa levanta-me dúvidas, embora a prefira a este livro de Ferrante que também gostei mas perdeu igualmente para "A vegetariana".
o tema não me interessou. beijos, pedrita
ResponderEliminarNão foi o tema que me interessou, o que me interessou foi descobrir o que tinha este romance que levasse a ter tão elevado prémio, a vencer Agualusa e Ferrante e ser tão estrondoso sucesso de vendas em tantos países por um público que não lê literatura de cordel.
ResponderEliminarComprei o livro da autora sul-coreana para oferecer à minha amiga Christa, adepta do veganismo, no dia do seu aniversário. Entretanto, li que este romance tinha vencido o Nobel de Literatura turco, um dos meus autores preferidos, então, resolvi lê-lo.
ResponderEliminarAfinal, a minha amiga também gostou dessa história bizarra, erótica, tremenda, escrita numa linguagem realista e dura.
Nunca li nada, nem do Agualusa, nem da Ferrante.
Continuação de boas leituras, Carlos.
Ferrante dispensa de publicidade tanto tem sido o seu sucesso atual por essa europa, agora de Agualusa recomento não só o livro citado no post, como "O vendedor de passados", o meu predilecto.
ResponderEliminarOlá, o bom é que sempre encontro livros diferentes aqui, dos quais nunca ouvi falar rsrs.
ResponderEliminarGostei da resenha, ao ler fiquei pensando em quantas culturas diferentes há por ai...
Abs.
Sendo eu um viciado em livros e pertencendo a um grande grupo de leitores do qual faço parte da equipa de coordenação que tenha contacto com grande diversidade de géneros e como gosto de espreitar realidades diferentes isso surge refletido nas minhas leituras. Este livro é evidente que vem de uma cultura nada cristã e onde as regras de moral podem ser bem diferentes da nossa e isso vê-se na obra.
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