"Suite Francesa" de Irène Némirovsky é um relato escrito a quente, com dois tempos, o da fuga dos franceses durante conquista de Paris pelos alemães na II Grande Guerra e depois a vida diária num burgo de província durante o domínio alemão até à declaração guerra com a União Soviética.
O romance foi programado para cinco movimentos, mas é uma obra incompleta, pois a própria escritora durante este trabalho estava em fuga como judia, tendo sido depois capturada e morta num campo de concentração, quando lhe faltava ainda escrever os últimos três andamentos desta suite, embora pelas notas anexas no livro se saiba o essencial do que seria a terceira parte, enquanto os últimos dois, como ela própria dá a entender, estivessem ainda no segredo dos deuses, se é que estes já soubessem qual seria o fim da guerra então em curso.
Confesso que nunca lera nenhuma obra assim, não apenas por ser uma maravilha literária pelo ritmo do desenrolar a estória que decorre quase em simultâneo com os acontecimentos históricos narrados, como também pela qualidade da escrita e, sobretudo, pelo retrato que a autora faz do momento da ocupação, onde, em vez da via fácil de demonizar o invasor, mostra os fracos do povo invadido e mesmo assim tal não é feito como um julgamento da França, país que nunca lhe concedera a nacionalidade sendo ela já uma fugitiva da revolução russa.
Mais interessante ainda é que na segunda parte, com a escritora mesmo em fuga aos alemães por ser judia, embora católica, os militares germânicos são tratados como pessoas iguais: têm sentimentos, virtudes e defeitos humanos, sem merecerem nenhum ódio especial.
O livro tem ainda dois prefácios sobre como foi descoberto o manuscrito desta escritorajá no século XXI, que já era de reconhecida no início da guerra por editores europeus, bem como as notas da autora sobre a forma de construção da obra e a correspondência em torno da sua fuga e detenção.
Há obras-primas únicas de grande qualidade e esta é uma delas, o sucesso editorial que está a ocorrer em torno deste livro, mesmo na orgulhosa França assim desnudada, tem toda a razão de ser. Classificação máxima como obra de ficção que procura fazer um verdadeiro retrato da história e curiosamente feito a quente, sem o julgamento dos vencedores ou o complexo dos vencidos.
quero ler, pela capa parece que há um filme. interessante a forma como ela narra. não li adeus as armas. beijos, pedrita
ResponderEliminarPois recomendo verdadeiramente esta suite, espero que no Brasil a edição também tenha estes prefácios e as notas da escritora, valorizam muito o conjunto.
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