impressões de um geólogo amante de livros e música erudita que vive numa ilha vulcânica bela e cosmopolita
Páginas
▼
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
sábado, 26 de dezembro de 2015
"Flores" de Afonso Cruz
Afonso Cruz caracteriza-se por uma escrita poética e metafórica original com intercalações subtis de referências a situações e factos reais presentes ou históricos, o romance "Flores", segue este estilo cheio de beleza e sentimento deste escritor Português e em ascensão no mundo literário atual.
O protagonista vê a sua vida familiar a desmoronar, em muitos aspetos por culpa própria, e apercebe-se da solidão do seu vizinho velho que perde a memória do seu passado, então numa forma de compensação pessoal tenta reconstituir a vida do idoso que se esqueceu do seu primeiro beijo, da sua paixão e até da sua maldade, assim lentamente vai-se reconstruindo uma vida vivida num presente cheio de incertezas e onde a filha serve de ponte entre a infância e a velhice e de referência do desnorte dos adultos.
Um livro cheio de ternura, onde se observa os desperdícios e erros da vida adulta, o momento onde se destroem oportunidades nascidas ainda em criança, que depois desaproveitadas parecem perdidas no ocaso da vida, mas onde o protagonista tenta ainda recuperar o importante que temperou uma vida e deste modo constrói-se uma obra cheia de sentimento, saudade e mensagens subliminares que serve de lição de vida. Gostei e recomendo a qualquer tipo de leitor
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
FELIZ NATAL
Imagem daqui
Para todos os leitores, habituais ou ocasionais deste blogue Geocrusoe, quer sejam amantes de livros ou de outras formas de expressão cultural, geólogos ou com outras formações profissionais ou sem elas e diferentes preferências, apresento os meus sinceros votos de que tenham:
UM FELIZ NATAL DE 2015
domingo, 20 de dezembro de 2015
"O adeus às armas" de Ernest Hemingway
Em "O Adeus às armas" Ernest Hemingway, prémio Nobel de 1954, relata o nascimento e a sobrevivência do amor no tempo da I Grande Guerra, tendo como pano de fundo a derrota e posterior retirada italiana perante os austro-húngaros na batalha de Carporetto, a nordeste de Veneza, conflito onde o escritor participou como voluntário americano motorista de ambulâncias e viveu um caso de paixão, à semelhança do protagonista do livro, um oficial voluntário do mesmo País, sendo por isso, uma obra fortemente baseada na sua experiência pessoal.
Neste misto de descrição do conflito real, o seu caso e o poder da paixão ficcionado, Hemingway aproveita, não só para pôr questões sobre a guerra, mas também expor a crueldade desta e ainda fazer uma reflexão à sua renúncia face à superioridade do amor, onde tudo mais passa a secundário.
Escrito sem muitas figuras de estilo, Hemingway utiliza uma linguagem, por vezes quase jornalística, na descrição da paisagem e da guerra, outras vezes, com recurso a diálogos quase ridículos como o serão todas as conversas de apaixonados à semelhança das cartas de amor de Fernando Pessoa, criando assim uma narração ao mesmo tempo encantadora e dura, como só ele é capaz quando fala de conflitos bélicos e dos prazeres da vida, um belíssimo romance que recomendo a qualquer tipo de leitor.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
"Suite Francesa" de Irène Némirovsky
"Suite Francesa" de Irène Némirovsky é um relato escrito a quente, com dois tempos, o da fuga dos franceses durante conquista de Paris pelos alemães na II Grande Guerra e depois a vida diária num burgo de província durante o domínio alemão até à declaração guerra com a União Soviética.
O romance foi programado para cinco movimentos, mas é uma obra incompleta, pois a própria escritora durante este trabalho estava em fuga como judia, tendo sido depois capturada e morta num campo de concentração, quando lhe faltava ainda escrever os últimos três andamentos desta suite, embora pelas notas anexas no livro se saiba o essencial do que seria a terceira parte, enquanto os últimos dois, como ela própria dá a entender, estivessem ainda no segredo dos deuses, se é que estes já soubessem qual seria o fim da guerra então em curso.
Confesso que nunca lera nenhuma obra assim, não apenas por ser uma maravilha literária pelo ritmo do desenrolar a estória que decorre quase em simultâneo com os acontecimentos históricos narrados, como também pela qualidade da escrita e, sobretudo, pelo retrato que a autora faz do momento da ocupação, onde, em vez da via fácil de demonizar o invasor, mostra os fracos do povo invadido e mesmo assim tal não é feito como um julgamento da França, país que nunca lhe concedera a nacionalidade sendo ela já uma fugitiva da revolução russa.
Mais interessante ainda é que na segunda parte, com a escritora mesmo em fuga aos alemães por ser judia, embora católica, os militares germânicos são tratados como pessoas iguais: têm sentimentos, virtudes e defeitos humanos, sem merecerem nenhum ódio especial.
O livro tem ainda dois prefácios sobre como foi descoberto o manuscrito desta escritorajá no século XXI, que já era de reconhecida no início da guerra por editores europeus, bem como as notas da autora sobre a forma de construção da obra e a correspondência em torno da sua fuga e detenção.
Há obras-primas únicas de grande qualidade e esta é uma delas, o sucesso editorial que está a ocorrer em torno deste livro, mesmo na orgulhosa França assim desnudada, tem toda a razão de ser. Classificação máxima como obra de ficção que procura fazer um verdadeiro retrato da história e curiosamente feito a quente, sem o julgamento dos vencedores ou o complexo dos vencidos.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
"Não se paga! Não se paga!" de Dario Fo
Há muito tempo que aqui não falava de teatro, ontem foi dia de ver o grupo amador Faialense "Teatro de Giz" que tem encenado nesta ilha autores de grande reconhecimento internacional, desta vez o laureado com o Nobel da literatura: Dario Fo, com a sua obra "Não se paga! Não se paga!".
Uma paródia sobre uma revolta popular contra os preços, que depois contagia todos, inclusive os mais conservadores e legalistas e até agentes de autoridade. Ocorrem momentos hilariantes, outros menos realistas mas que a brincar levam ao desabafo sobre muitas verdades amargas sentidas por quem tem de sobreviver no dia-a-dia e, em paralelo, há uma crítica à politica da Igreja Católica sobre o controlo da natalidade.
A representação e encenação está muito bem conseguida, envolvendo todo o espaço e vale a pena assistir se vive no Faial e ainda não foi ver, hoje é o último dia. Diverti-me imenso.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
"A Pérola" de John Steinbeck
Não sei se "A Pérola" é um conto ou uma novela, mas sei que é uma excelente fábula do laureado com o Nobel da literatura John Steinbeck, maravilhosamente escrita e procura mostrar que apesar das dificuldades da pobreza, o encontrar de um tesouro desejado pode não ser o fim de todos os problemas e até atrair muitos outros males que estão no coração das pessoas.
A forma de passar a música os sentimentos sentidos pelo pescador de pérolas perante a realidade que sente e vê à sua volta é genial e a escrita é tão bela que várias vezes repeti parágrafos para me deliciar. Um lindo conto ou novela, com uma lição de moral subjacente que recomendo a qualquer tipo de pessoa que goste de ler.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
"A Troca" de David Lodge
O romance "A troca" de David Lodge é uma sátira passada no mundo académico que envolve a troca de dois docentes entre duas universidades - uma norteamericana e progressista, a outra inglesa e conservadora - precisamente no período da revolução sexual, da revolta estudantil e da contestação à guerra do Vietname, de onde resultam choques de morais e tradições, não só entre gerações, como também entre culturas e costumes diferentes num período altamente conturbado e de afirmação de liberdades e direitos individuais e de cidadania com reflexos na estabilidade de cada um dos estabelecimentos, nos professores em causa, na gestão da crise estudantil que vai atingir até os núcleos, os valores e os problemas de casamento dos protagonistas neste mundo em mudança e espaços trocados.
Uma escrita cheia de ironias, onde o desenrolar das ações vai levar a situações embaraçosas, hilariantes e incompreensões sobre o modo como cada professor envolvido na troca vê o modo de ser e de agir no País estrangeiro, mas que após a apreensão inicial, prosseguem para um papel interventivo e de novas experiências, não só profissionais, mas também no campo da desinibição dos constrangimentos sentimentais, sociais e de relacionamentos amorosos que toda esta instabilidade gerou que retrata um período da história do século XX onde a mudança radical de costumes foi precedida de exageros até que se estabeleceu um novo equilíbrio aparente. Uma obra que é a primeira de uma trilogia passada no mundo académico. Um romance divertido, satírico e pouco extenso, o que o torna muito fácil de ler.
Uma escrita cheia de ironias, onde o desenrolar das ações vai levar a situações embaraçosas, hilariantes e incompreensões sobre o modo como cada professor envolvido na troca vê o modo de ser e de agir no País estrangeiro, mas que após a apreensão inicial, prosseguem para um papel interventivo e de novas experiências, não só profissionais, mas também no campo da desinibição dos constrangimentos sentimentais, sociais e de relacionamentos amorosos que toda esta instabilidade gerou que retrata um período da história do século XX onde a mudança radical de costumes foi precedida de exageros até que se estabeleceu um novo equilíbrio aparente. Uma obra que é a primeira de uma trilogia passada no mundo académico. Um romance divertido, satírico e pouco extenso, o que o torna muito fácil de ler.