Outra grande erupção basáltica submarina, ocorrida nos Açores ao longo do século XX, foi a dos Capelinhos, a oeste da costa do Faial. Já descrita neste blog nos vários post com a etiqueta do mesmo nome. Neste tipo de actividade, o topo da chaminé do vulcão situa-se a pequena profundidade (metros a escassas centenas de metros abaixo da nível do mar), assim a pressão da coluna de água é reduzida, o que permite a projecção em altura dos materiais expelidos pelo vulcão e a formação de grandes explosões com o contacto do magma quente com a água fria.
Fase inicial da erupção dos Capelinhos. [Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. - in Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67 (1968) Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]
Assim, formam-se colunas eruptivas de grande altura, constituídas de cinzas vulcânicas (formadas a partir de gotículas de lava) e vapor, que ao caírem constroem pequenas ilhas... este modo de actividade vulcânica, já pormenorizado neste post, foi estudado e descrito cientificamente pela primeira vez com rigor durante a erupção dos Capelinhos que durou 13 meses, iniciados em Setembro de 1957, infelizmente não passou a ser conhecido por tipo Capeliano.
Fase inicial da erupção de Surtsey em 1963 onde é evidente a semelhança com os Capelinhos em 1957. Imagem daqui
Cinco anos depois, a sul da Islândia, surgiu uma erupção submarina basáltica, pouco profunda e semelhante à do vulcão dos Capelinhos, que originou a nova ilha de Surtsey. Nesta segunda descrição dos mesmos fenómenos observados nos Capelinhos, nasceu o nome que caracteriza este modo de actividade vulcânica, que passou a designar-se por Actividade do Tipo Surtsiano (sustseyan activity). Desde então, a descrição científica da primeira fase dos Capelinhos é sempre feita com referência a um vulcão que ainda nem existia à data do termo da erupção nos Açores.
Desenho esquemático de uma erupção do tipo surtsiano que poderia ter sido baptizado como do tipo capeliano. Legenda (tradução adaptada): 1- Nuvem de vapor de água; 2- Jactos de cinza; 3 - Cratera; 4- Água; 5- Camadas de cinzas e lavas do vulcão; 6- Estratos da crosta e do fundo oceânico; 7- Chaminé vulcânica; 8- Câmara Magmática; 9- Filões profundos. Esquema proveniente daqui.
Os edifícios vulcânicos construídos durante as erupções do tipo surtsiano são essencialmente constituídos por cinzas vulcânicas desagregadas, mais tarde, com a circulação de água os grãos podem ficar cimentados formando uma rocha popularmente conhecida por tufo vulcânico, embora no meio científico seja também conhecido por tufo hialopiroclastito.
O edifício vulcânico do vulcão dos Capelinhos, onde predominam as cinzas vulcânicas ainda não consolidadas.
A ilha de Surtsey veja-se que a semelhança com o edifício dos Capelinhos cinco anos mais velho é enorme. Imagem com origem daqui.
adorei esse gráfico fazendo a demonstração. beijos, pedrita
ResponderEliminarà pedrita
ResponderEliminartambém o achei muito elucidativo para se compreender este tipo de vulcanismo
devia se professor ;) ou pelo menos escrever os manuais escolares, fica tudo de forma tão simples, mas mesmo assim cientificamente correcto...
ResponderEliminarEstou de acordo com o Grifo. Uma aula bastante explícita e bem ilustrada.
ResponderEliminarao grifo
ResponderEliminarObrigado pelo elogio, efectivamente nunca sonhei ser professor, queria ter sido investigador em geologia, mas a vida não teve esse rumo. Qualquer forma, os post de geologia destinam-se exactamente a divulgar esta ciência e um dos principais grupos que os procuram são os estudantes, com destaque das escolas brasileiras que penso terem mais geologia nos curricula escolares.
à nanda
já exerci profissão durante dois anos no diurno e 3 em regime nocturno em acumulação. apesar de não ser formado na via de ensino, esforcei-me por dar boas aulas e alguma coisa aprendi com a reacção dos alunos e com os conselhos de outros professores de então.
Uma pequena grande diferença que, a partir deste post, encontro entre os dois, pode ser exemplificada pelas fotos dos respectivos edifícios: uma aérea e outra terrestre. O que poderá indiciar que o de Surtsey estará mais longe de terra habitada. O dos Capelinhos teve por peculiaridade o facto de estar ali "à mão de semear". O professor Forjaz creio que dizia que este fora o primeiro vulcão do mundo com transportes terrestres e telefone. Terá sido isso e o tipo de erupção (não muito agressiva) que permitiu o seu estudo pormenorizado e o projectou, levando consigo a ilha do Faial, pelas 4 partidas do mundo. Por isso e por ter sido o primeiro a actividade devia ter sido baptizada de capeliana. Trata-se de uma injustiça!
ResponderEliminarao césar
ResponderEliminarefectivamente surtsey está a várias milhas da costa islandesa, mas os principais motivos do termo não ser capeliano e vingar o surtsiano foi o isolamento da comunidade científica portuguesa na época e a subserviência desta à terminologia estrangeira, pelo que procurou encaixar o que via em modelos de erupções terrestres com tipologias bem definidas mas diferentes. Ao contrário, os islandeses logo proposeram um novo nome... situação que agora parece estar a ocorrer com o serretiano que começa a ser aceite, vamos a ver se resulta.
No resto o que dissestes é sensivelmente verdade.
Como sempre, muito didática a explicação.
ResponderEliminarDenise
Sim Sr. geocrusoe
ResponderEliminarEste post merece o prémio "disparates ao metro"!! Fico triste porque uma pessoa com a sua formação em geologia comete erros gravíssimos em processos e conceitos, alguns deles a revelar uma profunda falta de espírito crítico da sua parte. Mais, com a quantidade de informação credível que existe na internet é "fácil" aprender ou recordar conceitos. É necessário saber separar o trigo do joio.
Também reconheço que ser geólogo não é o mesmo que vulcanólogo!
Vamos, faça um esforço para evitar os erros.
Já agora onde foi buscar o termo "tufo hialopiroclastito"?! Nunca ouvi falar em tal ... nem nas enciclopédicas vulcanológicas mais "absurdas" que conheço!!!
P.S. Se tiver alguma dúvida, porque ninguém nasce aprendido, estou ao seu dispor para o esclarecer!!!!
P.S. Sou vulcanólogo
Além do tom arrogante de que não gosto, informo que embora não goste do termo hialopiroclatito e do mesmo não surgir na literatura inglesa (livros de vulcanologia em português são raros), o termo foi-me ensinado na Universidade de Lisboa durante a licenciatura e na Universidade dos Açores durante o mestrado.
ResponderEliminarContudo, reconheço que a a etimologia da palavra descreve com perfeição o que ela pretende dizer.
Quanto aos outros chorrilhos, desculpe, nem vou comentar.
Cumprimentos