Os vulcões não são os únicos construtores das fajãs nas ilhas do Atlântico Nordeste - a Macaronésia. Um outro fenómeno, por vezes catastrófico, também origina fajãs: movimentos de massa. Estes ocorrem por acção da gravidade sobre materiais pouco consolidados em vertentes muito inclinadas e, frequentemente, são desencadeados por chuvas diluvianas, terramotos ou explosões vulcânicas.
Estes movimentos de massa, conhecidos popularmente por escorregamentos ou deslizamentos de terras, bem como por derrocadas, por vezes são responsáveis pela deslocação de grandes volumes de rocha e solo que se acumulam na base de taludes ou escarpados e designados por depósitos de vertente.
Nos Açores, as arribas costeiras são constituídas pela sobreposição de escoadas de lavas, mais ou menos fracturadas e por piroclastos desagregados (bagacinas, cinzas vulcânicas ou pedra-pomes), muitas vezes com grandes desníveis altimétricos, expostas na base à erosão marinha e sujeitas a chuvas intensas e às vibrações das explosões vulcânicas e sismos; factores propícios a ocorrência de grandes movimentos de massa, cujos materiais, ao se depositarem na sua base, dão origem a fajãs não relacionadas com deltas lávicos.
Laguna da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, S. Jorge, vê-se ainda outros depósitos de vertente dispersos
As fajãs associadas as movimentos de massa, frequentemente, têm um perfil costeiro semelhante a uma língua de terra de contorno convexo para o lado do mar, com curvatura suave e, por norma, bordejadas por uma cordão de calhau rolado. A sua superfície é relativamente baixa e plana, o que origina, nalguns casos, lagunas litorais, muitas vezes de águas salobras.
Três fajãs com origem semelhante sendo a central de menores dimensões, Sanguinal
A coalescência de várias fajãs próximas formadas por depósitos de vertente, pode originar uma única fajã alongada pela base da arriba, com contorno curvilíneo suave. As partes convexas para o mar correspondem aos locais alimentados mais intensamente por escorregamentos e as baías abertas ao mar são os intervalos de união entre as várias fajãs.
A Fajã dos Vimes, é evidente a coalescência de depósitos de vertente de diferentes escorregamentos próximos (foto de Wikipédia)
Apesar da sua grande beleza e independentemente da sua génese, as fajãs a longo ou médio prazo estão sempre expostas a elevados riscos de serem atingidas por novos movimentos de massa, vindos de terra, ou a serem galgadas pelo mar, em momentos de grandes tempestades ou maremotos, por isso são consideradas zonas de risco para se viver em permanência.
Gostava de passar uns dias numa dessas Fajãs, nunca tive oportunidade.
ResponderEliminarComo sempre, suas postagens são uma aula de geologia e de fotografia.
ResponderEliminarDenise
Muito interessante.
ResponderEliminarViver numa fajã pode ser fatal um dia...Já tinha pensado nisso.
A beleza das fajã reside também um pouco nessa dita fatilidade. Afinal, o risco sempre foi um íman muito poderoso...
ResponderEliminarà nanda
ResponderEliminarem são jorge há várias que acolhem hóspedes, embora para algumas se tenha de andar a pé distâncias algo significativas.
aos incansáveis
pelo menos divulgação da geologia tento... a paisagem dos açores faz o resto.
ao josé quintela
e acidentes já ocorreram no passado nomeadamente em 1980.
ao lb
acredito que o risco pode ser um isco, mas julgo que em são jorge a maior atracção é o isolamento possível do mundo e um banho de imersão total na beleza da natural
Resposta ao comentário no meu blog:
ResponderEliminarEste foi escrito esta manhã e por acaso o tempo manteve-se assim o dia todo...
Normalmente publico os poemas no dia em que os faço ou no dia a seguir...
Olhando agora para o pico segundo a sabedoria popular amanha o tempo estará melhor :) (isto foi escrito ás 20h:30)
Podem ser zonas de risco, mas são fantásticas, cada vez gosto mais dessa ilha.
ResponderEliminarPs - Belas fotos
ao grifo
ResponderEliminarparece que se confirmou a questão do tempo ;-)
ao lc
é uma belíssima ilha, pela qual eu tenho uma grande paixão...