Acabei de ler "O Mundo Ardente" da escritora norteamericana Siri Hustvedt, esposa do famoso Paul Auster que faleceu enquanto lia este romance.
O romance compõe-se como uma compilação de testemunhos, excertos de diários e artigos de especialidade em torno de uma artista plástica falecida, Harriet Burden, esta, com uma cultura artística, literária e filosófica enciclopédica, cujo suposto autor do livro estudou. Ela que se caracterizou pela insatisfação de considerar que às mulheres não era reconhecido o seu real valor artístico em comparação com outros artistas homens de igual calibre. Para demonstrar tal tese e em busca do reconhecimento da sua obra, Harriet programou três exposições em Nova Iorque assumidas por outros três homens distintos que lhe serviram de máscara. Assim, o projeto iniciou-se e decorreu de acordo com o previsto, mas à terceira a relação com a sua máscara complicou-se e resultou numa situação inesperada para esta mulher lutadora e irrequieta, esposa de um comerciante de arte que a punha na sombra, provavelmente pelo mesmo motivo que ela procurou denunciar.
Um obra, ao estilo pós-moderno, cheia de notas e referências e menções a filósofos, psiquiatras e artistas, onde se vai montando um complexo retrato da protagonista e a força desta, visto pelos olhos dela e de quem lhe foi próximo ou apenas testemunha social. Deste modo se vai conhecendo as suas relações familiares e com as restantes pessoas que vão surgindo ou participando no romance, o seu projeto artístico, o seu estilo e o seu esforço para vencer numa sociedade masculinizada e preconceituosa.
Por teoricamente o romance ser escrito por numerosas personagens e em situações diversas, o texto também comporta numerosos estilos, ora de entrevista, ora de memória, ora de reportagem, ora de ensaio, ora de gente exótica, ora de amigos, ora de gente em litígio ou que lhe tem um amor ardente que caracterizou a vida de Harriet Burden. Um excelente livro, nem sempre fácil, mas um magnífica obra literária que evidencia o valor da escritora menos reconhecida que o marido, mas talvez tal seja a melhor prova da razão da protagonista ficcionada.
que livro diferente. eu não li nada do marido dela tb. preciso olhar com detalhe pra confirmar. beijos, pedrita
ResponderEliminarJá li dois dela e são bem diferentes, mas ambos muito bons como obras literárias. Este bem mais rico. Do marido já li várias obras e algumas talvez releia e também gostei de todas as que li
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